terça-feira, 18 de dezembro de 2007

A Arte da Gerência – 1: Tipos de Lucro

Gerir uma empresa não se aprende na escola. Deveria, mas não se aprende, nada substitui o talento e a experiência. Por isso, aqui estou começando uma seqüência de dicas baseadas em alguns anos de leituras e práticas, na expectativa de auxiliar aqueles empresários e administradores que enfrentam alguns dos mesmos problemas que eu já passei.
A primeira frase que todo o gerente deveria saber na ponta da língua é de John Kennedy: “Não sei o segredo do sucesso, mas o do fracasso é querer contentar a todos.” Um bom administrador, sem deixar de escutar àqueles ao seu redor, precisa aprender a tomar decisões, tendo plena consciência de que toda e qualquer decisão tomada, por mais ínfima que seja, será criticada. Escolher significa deixar de lado um sem-fim de possibilidades para escolher apenas uma.
E qual é a escolha correta? A que dá lucro, até aí todo mundo sabe. Se uma empresa privada não gerar lucro, não irá prover empregos e nem benefícios à sociedade, pois essa é a sua razão de existência, portanto toda a previsão de receitas deverá superar o somatório dos custos e das despesas. Só que, como falo sempre, existe uma máxima da economia que diz que o objetivo de uma empresa é gerar, não simplesmente o lucro, mas o máximo lucro e essa verdade é esquecida pela grande maioria dos empresários.
E como saber qual ação que dará o máximo lucro? Normalmente se ensina que as expectativas de lucro se dão no curto, médio e longo prazos, mas eu, pessoalmente, tenho uma classificação diferente e que considero mais fácil de avaliar.
Em primeiro lugar temos os LUCROS VISÍVEIS. Um exemplo bem chão: se você fizer pão, venderá o pão e entrará dinheiro na sua padaria. Matemática simples. Ações destinadas à obtenção de Lucros Visíveis são aquelas que tratam da gerência imediata do seu negócio e interessam mais ao setor de faturamento, porque mostrarão resultados mais rápidos. Ainda no exemplo da padaria, as decisões que levam aos lucros visíveis são, por exemplo se é melhor fabricar pão de milho ou pão de batata. Qual irá gerar maior receita e menor despesa?
O ramo do conhecimento humano que estuda os Lucros Visíveis é a economia. As decisões de o que vender, em que quantidade e a que preço são amplamente estudadas pelas curvas de demanda, custo e receita marginais, que já foram citadas no Livro A Empresa Sublime .
Existem também os LUCROS PREVISÍVEIS que são tratados por aquelas ações em que se espera um retorno, mas não se tem uma mensuração muito exata de resultados. É melhor investir cinco mil em um anúncio de Internet ou em um carro de som andando pela rua? Sabe-se que ambos darão algum retorno, mas quanto? Qual seria o melhor?
Fazem parte das ações que levam a Lucros Previsíveis, a publicidade, as inovações tecnológicas, o lançamento de novos produtos e serviços e a pesquisa de novas oportunidades. A disciplina que estuda os Lucros Previsíveis, portanto, é o marketing.
Por fim, temos os LUCROS INVISÍVEIS que são ações em que sabemos que irão gerar lucro, mas não temos em absoluto como avaliar o impacto a não ser depois de ocorridas, pela análise dos balancetes passados. São as placas informativas, as instalações e pintura do prédio, a qualidade do atendimento, a decoração, os equipamentos oferecidos aos clientes, a satisfação dos empregados, a embalagem do produto... enfim, tudo aquilo que não é mensurável, mas se sabe que contribui para aumentar as receitas. Normalmente, mas não exclusivamente, são assunto de arquitetos e designeres.
É a decisão sobre esses três tipos de ações que trata a real arte da gerência, que é a da sensibilidade em se perceber o que não está funcionando e mudar com o menor impacto de custo possível e resultado. Nenhum dos três tipos de lucro é preponderante sobre os outros. A busca pelo Lucro Visível não deve jamais sacrificar as ações de Lucros Previsíveis e Invisíveis. Afastar um funcionário que rouba, talvez seja menos importante do que melhorar o atendimento do telefone, apesar de parecer em um primeiro momento a prioridade.
A própria palavra, aliás, vem do latim “priori” que quer dizer primeiro. Não existem “prioridades”, deve-se sempre decidir qual dos três tipos de ações deve ser tomada em um determinado momento, pois essa decisão muda o tempo todo.

A arte da gerência representa a criação de um mundo melhor para todos os envolvidos pela associação ali formada: Estado, empresários, empregados, atravessadores, clientes e consumidores e por isso deve ser pensada mais do que um simples jogo, como uma importante ferramenta do crescimento social.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Guerra ao Brasil

Muito se fala na possibilidade de invasão militar venezuelana ao nosso país, afinal contra quem o ditador Chavez estaria se armando? Contra os Estados Unidos? Não daria nem pro início. Contra a Colômbia? Seria o mesmo que declarar guerra diretamente ao Grande Irmão do Norte.
Em princípio, a guerra contra o Brasil parece uma idéia absurda, principalmente se considerarmos que as nossas forças militares são consideravelmente maiores, apesar de mal distribuídas, concentradas principalmente na região sul, o que até traria uma vantagem em um primeiro momento mas uma derrota provável logo a seguir.
Acontece que guerras não ocorrem devido ao potencial militar do agressor, mas do interesse de um determinado país em ser invadido, as quintas-colunas interessam mais do que a estratégia em si. Foi assim com Napoleão, que conquistou a Europa em grande parte devido ao interesse das classes burguesas de diversos países em se opor à aristocracia rural que travava o incipiente desenvolvimento industrial. Foi assim com Hitler que invadiu diversos países sem disparar um único tiro. Jamais na história duas democracias entraram em conflito armado, mas a Venezuela está longe de ser uma democracia, o que cumpre o primeiro requisito para a existência de guerra. Quem garante que o caudilho não inventará uma bravata à la Malvinas? Portanto, para que estejamos certos que isso não ocorrerá, a pergunta é: será que a quinta-colunagem brasileira não iria apoiar uma possível invasão?
Será que não existem por aqui idiotas aos montes invejando a falta de carne e de papel-higiênico do país vizinho em troca do ideal do “socialismo bolivariano”? Traficantes de drogas, integrantes do MST, empresários corruptos e políticos que armam esquemas milionários não teriam interesse em uma invasão? Com um governo totalmente simpático à Chavez, em quanto tempo será que as nossas forças armadas conseguiriam reagir? Será que suprimentos, munições e combustíveis chegariam à frente de batalha em tempo ou seriam bloqueadas propositalmente por uma burocracia mal-intencionada?
Dessa forma, não temo uma invasão da Venezuela, mas um escancarar de portas dos próprios brasileiros, isso sim.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Reportagens Que Não Existiriam se Existisse o Dinheiro Eletrônico

Estou começando aqui uma série de listagens semanais, para tentar demonstrar ad nauseum o quanto o mundo poderia mudar positivamente se acabássemos com o dinheiro “cash” e passássemos a usar apenas transações eletrônicas, conforme eu expliquei na postagem que pode ser lida clicando aqui.

11/12/2007- Dois atentados a bomba na Argélia, no norte da África, deixaram 67 mortos. A Al-Qaeda assumiu as explosões, uma delas contra um prédio da Organização das Nações Unidas. - Sem dinheiro cash seria difícil de comprar explosivos sem abrir os olhos da polícia;

12/12/2007 - Polícia descobre "fábrica de dinheiro" no bairro Boa Vista/ Curitiba - Se não houvesse dinheiro, não existiria dinheiro falso;

12/12/2007 - Mulher é morta por assaltante a caminho de Cumbica - Sem dinheiro cash não haveriam assaltos;

13/12/2007 - Grávida é libertada após passar mais de uma semana em cativeiro – Com o dinheiro migrando de uma conta à outra não poderiam haver seqüestros;

13/12/2007 – Dinheiro de Carol Castro é furtado no hotel, em Salvador – Se só existisse dinheiro eletrônico, não haveria furtos de dinheiro;

14/12/2007 - A prova da OAB foi vendida por R$2.500,00 – com dinheiro eletrônico, os envolvidos seriam rapidamente rastreados e presos.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

- Casamento Ocidental -Capítulo 1 - O SER HUMANO PRIMITIVO

1.1 Reprodução

Os animais superiores reproduzem-se por uma forma específica de reprodução chamada de sexuada, que é obtida por meio de células especializadas, que recebem o nome de gametas. Esses gametas fundem-se na fecundação, formando um ovo ou zigoto, que possui no núcleo pares de cromossomos, um de origem paterna e outro de origem materna.
A ocorrência de autofecundação é excepcional dentre os seres vivos, sendo que os encontros sexuais constituem quase que a regra geral.
Cada espécie animal desenvolveu no decorrer do seu processo evolutivo uma forma específica de possibilitar esses encontros, sendo que algumas espécies superiores desenvolveram todo um ritual de acasalamento que permite à fêmea escolher o macho mais propício, ou seja, com condições de força, agilidade, sagacidade e saúde avaliada visualmente pelo tom da plumagem ou do pêlo, cheiros, sendo que essas características são necessárias à reprodução para que sejam transmitidas geneticamente à geração futura, impedindo assim a transmissão de caracteres degenerativos.
Assim o cortejo da fêmea pelo macho constitui um importante fator de perpetuação e aprimoramento genético da vida. A seleção natural opera desta forma: primeiro selecionando espécies para que se adaptem ao meio e a seguir aprimorando essas espécies para cada vez conseguirem exercer melhor domínio sobre os demais.
Se é que pode-se usar o termo, a "intenção" da natureza é possibilitar que uma determinada espécie consiga ampliar-se para o maior número possível de indivíduos dentro de um determinado ecossistema.
A reprodução pensa apenas no bem da espécie, de forma que o único indivíduo que tem algum valor é aquele que se reproduz. É por isso que a abelha-rainha é a mais bem cuidada e toda a colméia tem a sua atenção voltada apenas para ela. O zangão só tem função biológica até o momento em que se reproduz, morrendo no instante seguinte. Entre as viúvas-negras, o macho é morto logo depois do acasalamento. A fêmea do salmão morre logo depois de desovar devido ao cansaço da subida do rio. Existem muitos insetos que vivem poucas horas e o único motivo de viverem é para que a espécie prossiga. Algumas espécies de borboletas continuam o coito, mesmo se forem decapitadas.
Para a natureza, o valor da vida é unicamente coletivo. O indivíduo não tem qualquer importância.
Além disso, em um ambiente natural, poucos representantes das espécies chegam à idade adulta. Com um feroz predador, o guepardo, menos de dez por cento dos filhotes chegam a um ano de idade e mais da metade das águias nascidas no Alasca e Norte do Canadá (tidas como um bravo animal) morrem de fome no seu primeiro inverno1. Com o rei dos animais não é diferente. Dois terços dos filhotes de leão morrem antes de um ano.
Para as espécies que não são essencialmente predadoras, esses números são ainda mais dramáticos. Para certas espécies de peixes, pouquíssimos conseguem desenvolver-se porque os pais os devoram assim que nascem. Com as tartarugas-marinhas, muitas não conseguem sequer chegar ao mar após saírem dos seus ovos, morrendo de calor ou devoradas por aves na praia.
Sendo a reprodução da espécie o único motivo da vida, os animais encontraram formas originais de dar prosseguimento às gerações seguintes.
Basicamente, existem duas maneiras de fazer nascer um grande número de filhotes, condição necessária à sobrevivência da espécie, uma vez que boa parte desses filhotes irão morrer antes de chegar à idade reprodutiva: aumentar o número de indivíduos em um único parto ou postura ou aumentar o número de partos da espécie.
Aumentar o número de partos significa aumentar também o número de encontros sexuais, portanto, a condição necessária para que se realizem esses encontros é a constante presença do macho junto à fêmea. Animais desse tipo formam casais ou bandos.
O homem é um animal que pertence ao último grupo e, portanto, temos as três características básicas dos animais superiores nos quais nascem um único ou poucos indivíduos por cada parto ou postura: a presença do ritual de cortejo como forma de aprimoramento genético, a formação de coletividades como forma de possibilitar um maior número de encontros sexuais e uma intensa atividade sexual com objetivo de aumentar o número de partos.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Onde está o dinheiro? O gato comeu? O gato fugiu?

Meu pai era engenheiro agrônomo, mas do que ele mais entendia era de economia. Nos tempos de Figueiredo e Sarney, lembro que ele falava que o maior mal do Brasil era a inflação: “as pessoas acham que está mal agora, mas não sabem a recessão que acontecerá quando parar a inflação...mas vamos ter que passar por isso, não tem outro jeito.”. Pena que essas frases não foram gravadas, pois se tornaram realidade. Baseado no meu pai, na virada do século, falei a seguinte: “qualquer governo que suceder FHC será excelente, pois o pior mal do Brasil foi solucionado.”
Não deu outra, o controle ortodoxo da economia está agora produzindo frutos para o próprio partido que o criticou. Vi um entrevistado na Record News falando que o acréscimo na produção de veículos no país no ano passado corresponde a toda a produção da Argentina. Só o acréscimo! Além do imposto de produção, isso corresponde a maior consumo de combustíveis, IPVA, seguros, etc.
Na mesma entrevista, o repórter Paulo Amorim perguntou se essa não seria a culpa pelos engarrafamentos das grandes cidades, o que foi respondido com uma outra pergunta, extremamente pertinente: se está se produzindo tanto imposto, onde estão as estradas de qualidade, as ruas mais largas e os viadutos que reduziriam esses engarrafamentos?
Para onde está indo toda essa dinheirama arrecadada? As estradas públicas estão piores do que há dez anos, isso considerando que as principais rodovias foram privatizadas, ou seja na prática a malha viária nacional conduzida pela União diminuiu. Na maioria das cidades que conheço não se construiu um único viaduto. As ruas continuam esburacadas.
Sem falarmos em outros setores. A educação é das piores do mundo, os hospitais são um depósito de infecções, os portos estão sendo assoreados mais a cada ano, o transporte aéreo virou caos, as ruas continuam cheias de mendigos, a dengue que tinha sido praticamente erradicada, voltou com força e o setor energético ameaça um novo colapso.
A roubalheira está em alta, todo mundo acompanha pela mídia, mas mesmo assim essa riqueza toda deve estar indo para algum lugar, não acredito que se tenha capacidade de se desviar tanto quanto está entrando no erário sem chamar a atenção da imprensa, vejo tudo como má gestão mesmo.
E o governo insiste em manter a CPMF. Para quê, se os impostos só são revertidos no aumento da quantidade de servidores públicos, muitos com salários extorsivos, e não em infra-estrutura para o país?
Onde está o dinheiro que, como na música, ninguém viu? Onde estão os resultados de tão apregoada riqueza?

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Palavra de Ordem

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a presença de meus leitores neste blog. Pelo respeito que tenho a todos, gostaria de esclarecer o meu método de trabalho.
Normalmente, escrevo o blog aos domingos e peço para minha mulher ir publicando durante a semana, por isso, não trabalho com notícias muito frescas e tento falar de idéias mais amplas do que aquelas que estão por aí pipocando em um momento específico. Tento manter uma postagem por dia, o que é tarefa árdua, por isso desculpem as eventuais falhas. A hora de postagem durante a semana é às 9.00hs e nos fins-de-semana, à tarde, de forma meio irregular.
Não posso publicar todos os comentários que eu gostaria, pois já existe jurisprudência no nosso país de que os comentários são de responsabilidade do dono do blog. Por isso, peço desculpas também por eventual censura. Normalmente não publico comentários citando nomes e nem generalizações do tipo “todo funcionário do órgão público tal é ladrão...”. Além disso, como vivo falando por aqui, por mais que se apregoe o contrário, não existe liberdade de expressão no país e os processos judiciais têm tido importante papel de cala-boca, por isso tento evitar os assuntos já proibidos, como falar de drogas, sobre raças, sobre a vida de outros brasileiros, contra religiões, sobre ladrões notórios, etc., pois posso me incomodar por isso. De qualquer forma, agradeço inclusive pelos comentários impublicáveis, pois podem servir de inspiração para futuros textos.
Publico apenas material próprio, com exceção das fotos, em que uso o critério de publicar as que eu mesmo tirei em tamanho médio e as que eu catei pela Internet, pequenas. Esse é o motivo pelo qual raramente ofereço leituras externas ao blog. Textos curtos, eu publico aqui mesmo, longos no Anexo do Bonowblog, para que este daqui fique com mais variedade na primeira página.
Tento não falar de mim, família, trabalho e nem de fofocas sobre terceiros, pois como dizia Oscar Wilde, as pessoas são assunto dos criados, os patrões discutem idéias.
Caro leitor, conto com a sua presença e compreensão, pois esse blog é para você.
Vamos em frente.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Planos de Saúde


Muito se fala nas condições da saúde pública no Brasil, mas existe uma bomba-relógio que um dia vai explodir também na medicina privada e que tem toda a relação com o problema do SUS.
Na condição de administrador de um hospital, vejo diariamente médicos conviverem com o problema de repasses de planos de saúde que muitas vezes não pagam nem os custos de exames e cirurgias. Em regra, são intermediários caros para quem paga por eles e também patrões cruéis para aqueles que recebem pelos serviços prestados.
E a tendência é a de cartel, os grandes planos vão comprando os pequenos até o ponto de ficarem dois ou três deles dominando o mercado e ditando as regras.
Entra aí uma questão de liberalismo. Os planos de saúde têm acesso à publicidade, os médicos, por questões éticas, não, ou seja, um médico iniciante não consegue se estabelecer um consultório facilmente se não contar com a divulgação dos seus serviços por grupos privados, a menos que coloque preços vis nos seus serviços, prejudicando toda a categoria. O mesmo vale para hospitais e laboratórios.
Apesar, portanto, de uma aparente liberdade de mercado no setor, esta não existe plenamente, pois está cada vez mais controlada por grandes empresas.
Este problema só não é mais flagrante porque a economia e a população brasileira estão crescendo sem que a formação de médicos acompanhe no mesmo ritmo, mas a tendência é a de levar o Sistema Único de Saúde ao caos (imaginando-se que ainda não levou). Matemática simples: se o SUS paga R$8,50 por uma consulta, um médico que cobrasse R$15,00 em seu consultório teria um lucro enorme e pacientes a granel que pagariam barato por uma consulta particular.
O que faz o intermediário? Paga R$20,00 para o médico e cobra outros vinte do paciente, na forma de mensalidade e co-participação. Dessa maneira, todos saem perdendo: o paciente por pagar caro pela sua saúde, o médico que não recebe todo o potencial que o mercado poderia pagar e o sistema público de saúde, que não consegue competir em igualdade de condições com a previdência privada.
Como se poderia solucionar estas distorções? Criando-se um sistema paralelo de saúde. Uma listagem de médicos, centrais de exames e hospitais que aceitassem oferecer serviços particulares pelos preços que os planos de saúde pagam para eles, pois na verdade é esse o atual valor de mercado dos serviços. Se um exame que custa particular R$150,00 pudesse ser oferecido por R$40,00, que é o valor pago pela maioria dos convênios, será que muitas pessoas iriam preferir perder o seu tempo numa fila de SUS?
Idéia a se pensar.

domingo, 9 de dezembro de 2007

A Física do Caos

De repente, estou atônito e passivo
Diante os teus olhos, dois buracos negros
E dos teus lábios, uma tira de Möbius,
Dentro dos quais tudo é relativo.
Aqui, teus predicados sobressaem
E tua beleza é vida e arte,
Não me serve mais Descartes
E posso jogar fora Einstein.
Para compreender tuas lides
De nada mais me vale Euclides,
Pois como reduzir teu seio a uma maluca equação
E nomeá-lo como parabolóide de revolução?
Se teu corpo é paisagem bucólica,
Como chamar tua pele de curvatura hiperbólica?
Ao teu leito nada se sabe, tudo se intui,
O espaço se curva ao teu jeito,
O tempo nem sempre flui,
E o meu deficiente pensamento material
Não serve mais no teu mundo polidimensional.

Castelo de Coral

Eu nunca havia me interessado em conhecer o Castelo de Coral que, como o nome diz, foi construído inteiramente com blocos de corais por um eremita tcheco que vivia sozinho em Miami no início do século passado. Ninguém sabe como ele conseguiu trazer essas pedras enormes e empilhar umas sobre as outras, o segredo morreu com ele.
No dia que tirei esta foto, estava passandocasualmente pela frente e, se não estivesse sentado no carro, teria caído: o troço fica a uns dez quilômetros do mar. Como esse cara conseguiu?

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Dinheiro Eletrônico

A todo momento se ouve falar que o mundo e o país estão perdidos, não têm solução e que luz no fim do túnel está cada vez mais fraca.
Há solução, sim. Se o mundo está corrompido pelo dinheiro, acabemos com ele, ou melhor, acabemos com o dinheiro “cash”. Alguém já viu um guarda de trânsito ser subornado com cartão de crédito? E o político corrupto? Alguém já viu um com cartões-refeição escondidos na cueca? Traficantes de drogas fazem a pergunta se o cliente vai pagar com dinheiro ou cartão?
O mundo não é cheio de dificuldades, como se preconiza por aí. Existe apenas um único grande problema, o numerário, o dinheiro em espécie, que é o que causa um sem-número de males. Então, passemos a criar um meio para extinguir o “cash” e fazer com que toda a população use apenas o dito dinheiro de plástico.
A pergunta não é se isso vai acontecer um dia, mas quando acontecerá. O meio eletrônico já foi plenamente inventado, não estamos falando em ficção científica ou futurologia, apenas em políticas para melhorar consideravelmente a vida de todos. Estamos tão acostumados com este paradigma de indignidades, que não percebemos que existe uma solução rápida e simples para as iniqüidades do mundo.
Publiquei no Anexo do Bonowblog uma monografia defendendo a idéia de que isso é possível, lucrativo e inexorável do ponto de vista do avanço da tecnologia.
Vale a pena ler.
Boa leitura!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Estudo que Visa Eliminar o Dinheiro em Espécie e Implantar um Dinheiro Eletrônico

Com objetivo de criar um sistema que ao mesmo tempo traga maior segurança e comodidade em transações de negócio e também a eliminação radical de grandes problemas que afligem a humanidade há séculos, criou-se o presente trabalho que tem por proposta eliminar o dinheiro em espécie e implantar um dinheiro eletrônico, de forma diferente daquele meio usado pelas operadoras de cartões de débito ou de crédito.
O método de pesquisa busca um viés diverso: o de pensar um sistema que funcione tanto “on line”, como “off line” de modo a possibilitar o uso irrestrito de tal meio de troca. Espera-se com isso implantar uma maneira de praticamente acabar com a corrupção do meio político, bem como em qualquer outra atividade ilícita.
Tivemos como resultado que é, sim, perfeitamente possível tal antigo sonho da humanidade, devido aos recentes avanços tecnológicos. Além disso será fator importante de desenvolvimento do país e precisa ser pensado muito rapidamente.
A conclusão é de que a implantação do dinheiro eletrônico é inexorável no processo histórico da humanidade e temos por questão a ser debatida se o nosso país irá tomar a dianteira ou ser obrigado no futuro próximo a adquirir tal conhecimento de outros desenvolvedores, pois o meio de obtenção de tal feito já está perfeitamente disponível e precisa ser aproveitado
.
>>> Este é o resumo da monografia que vou comentar na postagem de amanhã. Caro leitor, tome tempo para ler no fim-de-semana, pois vale a pena. É uma espécie de panacéia para a maioria dos problemas nacionais.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Viagens de Trem


Muitos jovens não sabem disso, mas no Brasil já se viajou de trem. Na década de setenta, quando eu era criança, viajei muito.
Até 1969, o trem para Santa Maria, saía às dez horas de Porto Alegre, da estação que ficava mais ou menos onde hoje é o atual Viaduto da Conceição. Em 1970, foi inaugurada a nova estação, na Rua Voluntários da Pátria, que permaneceu ali até a inauguração do Trensurb.
Eu viajei algumas vezes no trem da foto, o Minuano, que, como o vento que lhe deu o nome, passava muito rápido. Quando o trem parava na estação, minha mãe me jogava para dentro e já partíamos. Devia ficar menos de cinco minutos na plataforma.
Mas o bom mesmo para uma criança era o Noturno. Era um trem que partia às 10 da noite de Porto Alegre e chegava em Santa Maria lá pelas 6 da manhã. Minha família viajava no vagão-dormitório, que consistia em cabines com beliches. Meus pais ficavam em uma cabine e eu e minha irmã, em outra, ambas conectadas por uma porta. Em cada cabine havia uma mesa, banquinhos e uma pequena pia, com torneira de alavanca, que só saía água enquanto se ficava apertando. Havia um cheiro de DDT no ar e logo que o trem saía, eu caminhava com meu pai até o vagão-restaurante para comer um sanduíche e depois voltar para dormir. De vez em quando, íamos passear pelo trem. tinha a segunda classe (bancos de pau), a primeira (bancos estofados que podiam ter os encostos virados, ficando frente a frente com os passageiros de trás) e o vagão pullman (poltronas reclináveis).
Dormir com o sacolejar e o barulhinho do trem era uma maravilha que acho que nunca mais vou experimentar. De vez em quando, acordava no meio da noite, abria a veneziana da janela e ficava olhando o trem parado em alguma estação.
O café da manhã era em Santa Maria, onde fazíamos a baldeação para subir a serra em um trem que ia até Cruz Alta. Muitos anos depois, evoluiu-se, e o mesmo vagão que partia de Porto Alegre, era trocado para o trem da outra linha, de modo que não precisávamos carregar as bagagens.
Lá por 1978, surgiu o trem Húngaro, que era de um conforto só, com vidros espelhados, mesinha nas poltronas e serviço de bordo, como os dos aviões. Eu adorava o pudinzinho de pão que era servido de sobremesa.
Vários estados tinham linhas de trens como estas (tinha trem Húngaro em São Paulo, ligando à Santos). Imaginemos como vários dos problemas rodoviários do nosso país não teriam acontecido se tivéssemos mantido os investimentos no setor ferroviário.
Bem, para quem não esteve por lá naquela época, basta apenas imaginar, mas para quem viveu, ficam as saudades. Muitas.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

E Agora?

Recentemente, citando profundos estudos, a revista Slate publicou um artigo sobre as novas pesquisas científicas que concluem diferenças de QI entre diversas raças humanas.
Depois da descoberta que o sol não anda ao redor da terra e de que o homem não foi feito de barro, talvez essa seja a descoberta científica que maior dano criará ao pensamento cristão e suas conseqüências, o rousseauísmo e o socialismo. E agora? Como afirmar que todos os homens são iguais se a genética interfere na inteligência. A sociedade é que nos corrompe? Esta bobagem foi recentemente coberta com a pá de cal dos avanços do conhecimento científico. Rousseau foi definitivamente superado, hoje em dia ninguém, a não ser alguns de nossos governantes obtusos, pode afirmar e pretender igualdade social, pois as pessoas são intrinsecamente diferentes.
Crianças orientais subnutridas criadas por pais americanos têm em média mais inteligência do que os seus irmãos brancos e bem alimentados. A teoria do ambiente foi posta a terra por estudos como esse.
“Racismo é elitismo menos informação”, diz lá pelas tantas a reportagem da Slate. A grande lição desses novos conhecimentos não é o de fomentar uma corrida pela desinformação, mas o de pretender valorizar o indivíduo. A média de QI de uma raça é maior do que a de outras. As mulheres de ancas largas normalmente são mais inteligentes do que as de ancas estreitas. Os primogênitos são mais inteligentes do que os caçulas. Como será que fica uma judia (povo considerado pelas pesquisas como o mais inteligente) caçula e de ancas estreitas se casar com americano de origem latina e primogênito? Como serão os descendentes? Será que a matemática é tão simples assim?
Por tudo isso, eu vou contra as oposições da dita direita brasileira quando contesta o sistema de cota para negros nas universidades brasileiras. Normalmente se fala que é uma lei que fomenta o racismo, mas o buraco é bem mais embaixo. A questão não é essa, mas a de que é uma proposição racista em si, o fato de a longo prazo fomentar o racismo é o de menos.
A lei pressupõe que em igualdade de condições, os negros não têm a mesma capacidade intelectual dos brancos. Esse é racismo implícito. Por que não estabelecer cotas para brancos em relação a nipo-brasileiros, uma vez que proporcional à população, têm presença maciça nas universidades de São Paulo e Paraná? E de caçulas em relação a primogênitos? Aliás, nessa eu entro, pois sou o caçula da família!
Já passei em vários vestibulares, sendo dois em universidades públicas, com meu próprio esforço e capacidade. Será que uma cota para filhos caçulas não iria me inferiorizar perante os meus colegas? Será que se eu quisesse entrar hoje em uma universidade seria mais importante uma lei que me protegesse ou debruçar-me por sobre os livros e estudar arduamente?
Grupos sociais têm diferenças entre si? E daí? Será que somos indivíduos ou apenas uma colônia de formigas?

domingo, 2 de dezembro de 2007

Amoral

Vê o mar que arrebenta a onda
E a onda que arrebata o vento
E o vento que raspa a areia da praia.
E vê a matança de um porco,
A gangrena de um mendigo
E a beleza de um afogamento.
Vê o orvalho da manhã na azaléia,
Um beija-flor no hibisco,
Um raio de sol na vidraça,
A enchente de um rio barrento,
Uma placa de ônibus,
Um cachorro latindo longe.
E vê um vulcão dizimando uma aldeia
Um recife quebrando um barco
E a lua minguante no céu.
Vê o mundo e percebe,
Sem conformismo ou derrota.
Percebe a harmonia da desgraça,
A tristeza sutil da beleza
E a felicidade da dor.

Riverfront


sexta-feira, 30 de novembro de 2007

O Novo Desfecho

Corria o último ato do último dia da temporada e a casa estava quase completa. Amigos e familiares de todo o elenco haviam comparecido para as despedidas. O cenário já estava desgastado pelo uso: aquela sala de estar que durante os ensaios tinha sido alvo de tantas brincadeiras, agora transmitia um tom triste porque lembrava-nos os bons momentos que passáramos juntos naquele período.
Eu era o vilão da peça e estava me sentindo particularmente vivo naquela noite. A atriz que fazia o papel da mocinha parecia nervosa, talvez devido à emoção de estar dizendo as suas falas pela última vez. O filho bastardo tropeçou no texto, como de costume, mas isso não comprometeu em nada o espetáculo porque a energia que corria sobre o palco e conseqüentemente dentro da platéia era tamanha que não permitia a ninguém perceber as pequenas falhas. Todo o elenco que não estava em cena foi para trás das pernas para apreciar o trabalho dos colegas, e eu concentrava-me para a minha entrada final na qual seria desmascarado e sofreria as conseqüências da vileza.
Veio a minha deixa.
No momento em que botei o pé no palco, os meus olhos tiveram um brilho diferente daquele que nos proporciona a vara de iluminação. Num relance olhei a cena e percebi que aquele seria o último momento em que o vilão estaria encarnado em mim, depois ele deixaria de existir para todo o sempre. Ali compreendi a minha situação. Como em toda a minha vida eu achara falso e piegas aquele final, revoltei-me ao compreender o quanto era injusta a minha derrota noite após noite e resolvi que daquela vez, a última vez, seria diferente. Com passos decididos percorri a boca de cena, como sempre sem tirar o chapéu e nem a capa de gabardine, e me sentei na poltrona da sala de estar, como antes tantas vezes eu havia feito. Conversei normalmente com a mocinha. Quando entrou aquele que iria revelar todas as minhas baixezas, eu não o deixei falar ou agir. Peguei-o pelo colarinho, cuspi no seu rosto e para a estupefação geral joguei-o para fora de cena. Mantive-me altivo no centro do palco e alguns instantes se passaram até que ele tomou coragem e ousou voltar para que eu lhe desse um soco que, creio, ter deslocado o seu maxilar, fazendo-o desistir dos seus propósitos. Depois enlacei a mocinha com os braços e beijei-a com todo o meu desejo.
Eu finalmente era um personagem completo.
Quando o ator que me criara finalmente percebeu o que estava acontecendo já era tarde demais, pois eu tinha o controle perfeito da situação e chegara ao ápice da minha vileza. Ele entrou em cena decidido a me aniquilar, mas falhou ao não perceber que não estávamos em igualdade de situação apesar de compartilharmos do mesmo corpo e usarmos os mesmos figurinos. Eu era forte e tinha ombros largos como todo o bom vilão, enquanto ele apenas usava ombreiras, sem falar no fato de que era míope. Além disso ele me criara com todos os requisitos necessários para a personificação da maldade. Tentou me bater, mas ele lutava como um colegial, enquanto que eu usava de todos os golpes baixos para o derrotar. Logo o deixei caído no palco, voltei-me para a mocinha e avancei com passos largos, decidido a tê-la para mim. Fui interrompido por um impacto nas costas. Virei-me e vi o meu criador com o seu punhal erguido no alto para um novo golpe. Fui mais rápido. Para a minha sorte o punhal que o ator usava era de mentirinha enquanto que o meu, de personagem, era, além de afiado, envenenado.
O sangue azul jorrou quando lhe enchi o coração.
Acabei ficando com a mocinha.
Naquela noite, o público aplaudiu em pé.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Ditadura da Maioria

A recente declaração de nosso presidente de que a Venezuela é um país democrático ao extremo, demonstra em uma primeira vista uma descarada mentira, mas na verdade apenas escancara um total desconhecimento sobre o que é democracia. Isso não vale só para o chefe do executivo, mas ilustra o que de comum há ao pensamento de muitos dos brasileiros.
O conceito foi formulado por Aristóteles há uns 24 séculos. O filósofo defendia a idéia de que a democracia (demokratia) é um sistema injusto de governo em contraposição à politeia que seria a forma justa de governar. Os romanos traduziram politeia por “coisa pública”, res publica, palavra que chegou até nós como república.
Ainda que tenhamos misturado as duas palavras, os conceitos são bem distintos. Originalmente “demokratia” era a imposição da vontade da maioria. Acontece que a maioria nem sempre está correta. Como exemplos, podemos citar a questão da pena de morte ou da questão de acabar com os impostos, que são inquirições que não podem ser resolvidas por plebiscito simples sem chegarmos a resultados desastrosos para a sociedade.
Esse é o motivo por que foi criada a democracia com uma representação bicameral, que no nosso caso são a câmara e o senado. Toda a decisão de um grupo de representantes diretos do povo tem que ser confirmada por representantes dos estados, muitas vezes com visões e interesses distintos. A isso chamamos de república.
Pode-se falar o que se quiser do sistema político brasileiro, ele é cheio de defeitos, mas ninguém pode dizer que ele não é inteligente e justo.
Por isso que eu vivo dizendo aqui no blog que não conheço uma real oposição ao PT. Nós não temos muitas pessoas com mentalidade republicana, pois a grande massa populacional brasileira acredita no fundo do coração que a vontade da maioria deve ser imposta aos demais. As pessoas acham certo que se um grande grupo sai de um jogo de futebol gritando e quebrando tudo, os demais devem acatar passivamente. Se uma multidão ficar tocando música sertaneja alta, todos os outros deverão curtir juntos.
Nesse sentido, Chavez é um democrata no sentido primitivo da palavra, sim, Lula tem uma certa razão. A pergunta a ser feita é se é esse o modelo que deve ser seguido. Será que a vontade da maioria não se constituiria uma ditadura? E mais, será que a vontade da maioria não é facilmente manuseada por um líder hábil, como tantas e tantas vezes a história nos tem demonstrado?
Tão poucos pensam de forma republicana no país que não temos sequer um partido que siga esta linha, por isso, ao que tudo indica, muitos de nossos líderes continuarão seguindo com as suas pequenas mentalidades de perfeitos idiotas latino-americanos.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

The Day After

Após a aprovação da lei 8112/90, que trata do regime jurídico do trabalhador da administração direta, autarquias e fundações, criou-se uma elite no país que muitas vezes acredita estar no éden profissional, a dos servidores públicos. Afinal de contas, desde Dom João VI, os sucessivos governos vêm criando cada vez mais cargos com a intenção de criar um exército de burocratas que os apóiem tanto do ponto de vista legal, quanto de uma pretensa legitimidade.
Com isso, chegamos a um ponto que os concursos públicos se tornaram o sonho profissional de milhões de brasileiros. Afinal, quem não quer salários acima da média de mercado para as mesmas funções, benefícios muito superiores aos dos celetistas e estabilidade no emprego?
Acontece que a única coisa permanente na vida é a mudança. Esta corrente da felicidade estatal um dia vai acabar, pois é justamente isso que ela é: uma grande pirâmide que fornece lucros apenas àqueles que chegaram antes. Existe um ponto de ruptura entre os que pagam e os que usufruem dos impostos, entre a classe que produz riqueza e a que dita as regras, ponto que quando uma vez superado, o estado com um todo entrará em crise. Este ponto se dará no momento em que os impostos arrecadados começarem a chegar perto dos lucros obtidos com os diversos empreendimentos que constituem a economia nacional.
Devemos lembrar que no século XVIII, a inconfidência mineira e diversos levantes civis ocorreram porque Portugal cobrava em impostos um quinto dos ganhos do país e hoje o nosso governo está cobrando perto de quarenta por cento, ou seja, o dobro dos tributos que há dois séculos motivaram uma série de revoltas populares.
Quando atingirmos o encontro das curvas de máxima possibilidade de pagamentos de impostos com a máxima capacidade do estado em ser onerado, a economia nacional abruptamente entrará em colapso, com a síndrome que todos nós conhecemos: inflação, miséria, falências, decadência das instituições democráticas, etc.
E quem passará a pagar a conta quando isso ocorrer? Os únicos que podem ser esmagados nesse sistema todo: os servidores públicos de baixo escalão.
Assim, o que hoje parece ser uma panacéia profissional, tem tudo para virar um pesadelo nos médio e longo prazos. O nosso atual governo, apoiado em grande parte por muitos servidores públicos, sindicatos e associações de funcionários, diga-se de passagem, aponta para um calote já visível no horizonte. Que aqueles que pensam estar em uma situação privilegiada não se acomodem, não pensem que estão navegando em águas seguras, pois o navio que está fazendo água pode naufragar levando ao fundo tanto aqueles que viajam nas redes do convés, quando os passageiros dos camarotes.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Profissões

Algumas profissões têm um mistério intrínseco que os comuns dos mortais não conseguem alcançar. É claro que existem muitas exceções, toda a generalização é incorreta, aquela coisa toda, mas até agora não consegui compreender certos fatos.
Por que será que muitos padres têm voz de padre? Paulista fala como paulista, gaúcho fala como gaúcho, nordestino fala como nordestino, mas um padre paulista fala como padre, não como paulista. Uma coisa que é dificílima na vida é alguém perder o seu sotaque regional, como é que eles conseguem?
E médico? Por que será que tanto médico tem caligrafia de médico? Assim como os arquitetos têm (ou pelo menos tinham antes dos computadores) aulas para tornar a caligrafia mais legível, será que aprendem alguma norma para escrever de forma que apenas os farmacêuticos consigam entender? Faz sentido, poderia ser uma regulamentação de saúde, para evitar auto-medicação pelos pacientes, sei lá.
E por que casa feita por engenheiro é diferente de casa feita por arquiteto? Está certo que ambos têm uma meia dúzia de disciplinas diferentes na faculdade, mas basicamente aprendem o mesmo, a erguer quatro paredes e colocar um teto em cima. Como podem existir um monte de arquitetos famosos, glamourizados pela mídia, e tão poucos engenheiros civis na mesma situação? Será que umas poucas aulas de história da arte e de artes plásticas fazem tanta diferença assim?
E por que muitos dentistas insistem em conversar com a gente quando estamos com a boca aberta, sabendo que não podemos responder? Já encontrei vários barbeiros caladões, mas um dentista, nunca, todos os que conheci falavam pelos cotovelos.
São mistérios que acho que nunca vou desvendar.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Crônica: Telefone Público

Uma coisa que não nos ensinam nas escolas da vida é como agir quando acontece de estarmos passando pela rua e tocar o telefone público. Em um belo dia, eu estava indo para o trabalho e lá estava ele, tocando insistentemente, pedindo para que eu atendesse. Não pude resistir e assim o fiz:
- Funerária infantil Fantasminha Camarada, boa morte!
- Co-como? – Respondeu uma voz feminina do outro lado.
- Funerária infantil Fantasminha Camarada, senhora. Como posso lhe ajudar?
- Eu queria falar com o Joel.
- Ele está ocupado. Houve um acidente com uma van escolar e acabamos de receber três pacotes.
- Pacotes?
- Sim, três defuntinhos.
- Mas ontem à noite ele me disse que era técnico de construções!
- Ah, o Joel diz isso prá todas.
- O quê? Escuta, eu preciso muito falar com ele.
- Não pode, tem muito sangue prá raspar e o menino gostava do Batman, ele já deve ter saído prá comprar a fantasia prá vestir o corpo pro enterro.
- Que coisa horrível!
- Horríveis são aqueles terninhos brancos que deixam as crianças parecidas com o Tatoo da Ilha da Fantasia. Coisa cafona. E no acidente teve também duas menininhas gêmeas que vão pro além vestidas de fadinha, a senhora não acha que vai ficar uma graça?
- Como vocês podem fazer isso?
- Com maquilagem pesada, pois com o impacto fica muito deformado.
- Vocês são doentes!
Desligou.
“Que mulher mal educada”, murmurei.
Baixei o telefone e segui o meu caminho com a certeza de ter criado mais uma descrente a respeito do sucesso da raça humana.

domingo, 25 de novembro de 2007

O Algo Mais

Alguns lutam por comida e por teto,
Outros, por mais comida e mais tetos
E entre as lutas, meio que sem nexo
Apenas para perpetuar a espécie há o sexo,

Assim, vejo que a vida continua com viço
Com beleza, mas sem muito sentido prá isso
Quem sabe, após a morte exista um paraíso,
Uma iluminação ou um Baco diante do Elísio,

Mas, quem sabe, não.
Talvez estejamos só perdidos nessa imensidão
E cada filho, cada legume e cada cidade
Sejam só frutos de acasos e necessidades.

E se não for só a isso que a vida se destina?
E se houver algo mais, além de procriar e praticar rapina?
Se houver algo que no coração, ou sei lá onde, mora
Que amarre tudo com o aqui e agora?

Quem sabe se o amor não é a única fé cega,
E não falo do amor brutal ou do amor piegas,
Mas de algo bastante diferente
Que é um amor completo e transcendente.

Esse amor, que ultimamente anda um tanto esquivo,
Eleva, por ser iluminado e meditativo,
Mas ao mesmo tempo me empurra e me espeta
Por não ser imaginário, mas uma realidade concreta.

Por isso, sem esse amor, o que persigo?
O teto final, que é o teto do jazigo,
Ou tentar provar para sempre o colastro?
Não, meu amor, sem teu amor esse mundo é pouco vasto!

sábado, 24 de novembro de 2007

Banco Drive-Thru

Este é um banco bem comum nos Estados Unidos. Passa-se de carro, coloca-se a guia com o dinheiro no tubo (em detalhe), aperta-se o botão e, por ar comprimido, o caixa recebe e processa o documento lá dentro. De vez em quando acontecem umas filas de uns três ou quatro carros, no máximo.
Tem um outro banco em que os caixas ficam em ilhas espalhadas pela sala, só com um terminal de computador, de modo que o usuário é atendido em pé ao seu lado. Não existe gaveta de dinheiro. Para fazer um depósito, o caixa coloca em um envelope e bota para dentro de uma fenda, como em um caixa automático. Para saques, é o mesmo, o caixa digita o valor solicitado ou escaneia o cheque e o dinheiro sai da máquina, inclusive com trocados em moedas.
E depois ainda se diz que os bancos daqui são avançados...

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Estaria Chavez certo?

Como todo ditador recente, Hugo Chavez tem preconizado o fim “del império de norteamerica”, que os Estados Unidos são um mal que está prestes a acabar e que assim como o dólar que está em nítida decadência, o próprio “demônio do norte” está com os dias contados.
Como podemos saber se isso não é verdade desta vez? Se Roma, Portugal, França, Inglaterra e tantos outros impérios tiveram o seu período de ascensão e queda, por que isso não aconteceria com os Estados Unidos? Qual motivo que teríamos para acreditar que os mesmos princípios que conduziram a nação no século XX iriam se perpetuar? O que tem por ali que é diferente de todas as nações do mundo? Várias coisas, vejamos.
1. Uma mentalidade republicana. Nos Estados Unidos, as decisões são tomadas de forma que as vontades da maioria nem sempre vencem, o que é muito bom, pois as maiorias normalmente são, como diria Nélson Rodrigues, burras.
2. Liberdade de expressão, como em nenhum outro lugar do mundo. O que permite que o sistema seja contestado e melhorado o tempo todo.
3. Estudo dos erros da história. O povo americano, a cada geração, erra sempre coisas diferentes, mas aquilo que não funciona é deixado de lado.
4. Infra-estrutura, como em nenhum outro local do mundo. Ruas retas, duas tubulações de água em cidades, estradas amplas e lisas, informação sobre tudo que se precisar ao alcance da mão, sem burocracia.
5. Justiça e polícia que funcionam rapidamente. Rápido quer dizer, justiça feita algumas vezes em poucos dias e polícia chega em menos de cinco minutos. Rápido, muito rápido.
6. Estabilidade política e econômica. Os mesmos princípios utilizados na década de cinqüenta, são praticados hoje. Existe uma continuidade e não sucessivas rupturas em que se começa cada vez do zero.
7. Os impostos não levam pessoas e empresas à bancarrota, além de serem razoavelmente bem aplicados.
8. Mercado interno. O que faz com que todos queiram vender para os Estados Unidos, tornando o país defendido contra invasões externas.
9. População armada. O que dificulta ações de governo contra a população e também invasões estrangeiras.
10. Não se faz poupança. A população investe em bens e serviços, o que gera cada vez mais riqueza para o país.
11. As forças armadas mais poderosas do mundo.
12. População que ama o seu país. Muitas pessoas têm mastros em frente às suas casas para estender a bandeira nacional.
13. Liberdade econômica. Investimentos são sempre bem vindos, o governo não cria uma série de empecilhos burocráticos e com regras confusas, e nem tem um exército de corruptinhos para extorquir das empresas.
Dessa forma, dizer que os Estados Unidos está em franca decadência, acho meio precipitado. Só sei que eu me sentiria mais seguro com o meu investimento se eu pudesse comprar um apartamento em Miami, do que se eu escolhesse comprar um em Caracas. Você não, caro leitor?

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Histórias Bizarras 10 - Demônios

Se existe uma forma de inteligência superior criadora, por que não existiria uma força malévola?
Os povos pagãos admitiam a existência de duas “energias” distintas, uma forma “solar”, ou seja ligada à lógica, ao argumento e ao conhecimento em uma forma “lunar”, ligada às forças do inconsciente. O poder do inconsciente eles chamavam de “daimônico”, que é de onde saiu a expressão “demônio”.
Os católicos, para conseguirem se impor sobre o paganismo, passaram a censurar tudo aquilo que é daimônico, tendo inclusive representado o diabo com chifres e cascos de bode, que era como os gregos e romanos antigos representavam os faunos, que simbolizavam as força do inconsciente. Inferno para o paganismo era o local onde as sombras dos mortos perambulavam, não havia a noção de ser algo negativo que tomou posteriormente.
Dos pagãos, os católicos tomaram também a imagem de Deus, palavra que vem do latim e é corruptela do deus supremo da Grécia antiga, Zeus. Aliás, o deus católico é muitas vezes representado da mesma forma do que no paganismo: um senhor possante e caprichoso e que sempre aparece aos mortais disfarçado.
Originalmente, o daimonismo não tinha nada a ver com a idéia de mal, mas sim com um outro lado da personalidade humana: a sexualidade, os desejos, as carências, os medos, os prazeres, a embriaguez, enfim, tudo aquilo que não pode ser explicado ou racionalizado.

História da civilização posta à parte, devo contar a minha experiência com um demônio.
Eu estava meditando na sala do meu apartamento, quando morava em Florianópolis, sentado em uma posição de lótus. Era madrugada, quatro ou cinco da manhã. Em um determinado momento, comecei a sentir a presença de mais alguém na sala e esta sensação começou a crescer, até o ponto de se tornar absolutamente insuportável. Medo tomou conta de mim, o que fez com que eu parasse com a prática. Em outros dias, a mesma sensação se repetiu.
Interessante é que nos livros religiosos, sempre existe o conforto entre aquele que medita e o demônio. Jesus encontrou o demônio meditando no deserto e isso aconteceu com Buda, também. A parte mais difícil de toda a meditação é justamente enfrentar o demônio e isso, paradoxalmente, significa se convencer de que demônios não existem.
Essa é uma experiência bem estudada pelos neurologistas. O excitamento elétrico de determinada região do cérebro, faz com que o paciente desenvolva a sensação de que existe alguém a mais na sala. Os cientistas assim explicam as alucinações de pessoas que dizem terem sido abduzidas por extraterrestres, encontrado com demônios ou dominadas por espíritos íncubos. Faz tudo parte da nossa química cerebral.

Assim demônios não existem, o que de forma alguma exclui a energia daimônica.
Pela minha experiência pessoal, existe um estado mental especial que está fora do nosso estado normal, passivo e que se revela o tempo todo nas circunstâncias mais cotidianas.
Em uma explicação empírica, afirmo que existam duas atitudes mentais distintas oriundas da nossa evolução biológica. O ser humano é um animal que em tempos primitivos era ao mesmo tempo presa e predador, o que pode ser verificado no nosso gosto alimentar. Ao mesmo tempo, temos uma predileção para o sabor doce, o que denota que um dia fomos animais coletores de frutos, mas também temos atração pelo sabor salgado. Como na natureza a única forma de alimentos salgados são os animais, supõe-se que éramos também animais predadores. Isso pode ser confirmado pelos nossos dentes caninos e olhos na frente do rosto, características existentes apenas em animais predadores: animais que precisam fugir rapidamente têm olhos nas laterais para poder ver o atacante se aproximando.
Essas duas atitudes, a de presa e a de predador presentes em nosso psiquismo, deságua em duas formas mentais, a forma apolínea e a forma daimônica.
Apolo era o deus-sol na cultura grega e patrono do conhecimento e do raciocínio. As luzes da razão e da lógica são possíveis graças a esta nossa atitude mental. Essa é a atitude valorizada na nossa cultura porque gera riqueza, cultura, história, progresso e desenvolvimento. A sabedoria, a boa educação, o requinte são exemplos de uma atitude apolínea.
Por outro lado, existe todo uma parte do espírito humano voltado para o lado daimônico, o lado da sexualidade, da sobrevivência da espécie, da agressão, da loucura, da embriaguez, do domínio, da evolução, da intuição, do inconsciente.
Existe um livro maravilhoso de Camille Paglia, chamado de Personas Sexuais sobre o assunto. Esta pesquisadora norte-americana cita ali exemplos extremamente bem embasados de como o lado daimônico está presente em toda a grande arte ocidental, apesar de ser totalmente reprimido por nossa cultura.
O lado apolíneo é ligado à masculinidade, o lado daimônico, à feminilidade. O sol, palavra masculina em todas as línguas representa o homem e a lua, palavra sempre feminina, representa a mulher.
Veja-se bem, é totalmente errado pensar que o lado daimônico representa a mulher no sentido dado pela cultura cristã medieval, de passiva, donzela, mas sim estamos falando aqui de feminilidade incubo, predadora. O mito é o de Lilith, não de Virgem Maria.

Onde quero chegar é em uma idéia que vai conduzir ao próximo capítulo, sobre meditação, a de que existe uma atitude mental diferente daquela do cotidiano apolíneo e que é necessária para todo aquele que procura o mundo do sagrado.
Essa atitude pode ser reproduzida por um bom ator. Jack Nicholson, Johny Deep e Klaus Kinsky são exemplos de atores especialmente talentosos para representar personagens daimônicos. Uma imagem daimônica que pode ser dada como exemplo são aquelas máscaras de teatro balinesas com olhos arregalados e sorrisos sinistros.

Daimonismo é a mistura das sensações de felicidade, como poder e prazer. Não tem nada a ver com demônios ou negatividade.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Guerra de Propaganda

Depois de um montão de propaganda na televisão do PT nos últimos dias, o PSDB parece que resolveu reagir, mostrando como a maior parte das medidas atuais de que os seus opositores se vangloriam, foram eles que criaram.
Eles têm alguma razão, é verdade. A maior parte das medidas populistas e eleitoreiras que hoje vemos por aí, são dos tempos do FHC, o que só confirma ao eleitor que são farinha do mesmo saco e não uma real oposição. Por isso, esquecendo partidos políticos e falando da propaganda em si, achei a campanha do PSDB muito fraquinha.
Para o eleitor, não interessa quem é o pai biológico da criança, mas quem cria. Deviam ter batido nos pontos fracos, isso sim. E quais são eles?
- O PT falou em descriminalizar o aborto. Assim que a Igreja fez um muxoxo, já mudaram de idéia;
- O PT falou em melhorar as estradas. Não só pioraram as estradas, como promoveram o caos aéreo;
- Falou-se em moralidade pública, o que está longe de acontecer;
- Falou-se em integração latino-americana e o Mercosul está fazendo água por todos os furos;
- Asneiras faladas pelo presidente é que não faltam...
Tem uma coisa importante que parece que a imprensa e a oposição estão deixando passar batido. Lembram do Orçamento Participativo, da prefeitura de Porto Alegre, que o PT fazia questão de usar como bandeira? Por que isso não migrou para o nível federal, afinal não era uma idéia boa? Acho, foi a única experiência razoavelmente bem sucedida de democracia direta nas Américas, uma maneira real de fazer a população participar das decisões.
Está certo que o Orçamento Participativo nunca funcionou perfeitamente lubrificado, mas é daquelas grandes idéias, como os colchões d’água, as calçadas rolantes e os guarda-chuvas transparentes, que a gente fica se perguntando por que não deram certo. Ao meu ver, a questão não é que não se tenha como fazer funcionar bem, mas é meio temerário para um governo simpatizante de Chavez e Fidel perguntar para suas bases se querem construir postos de saúde ou doar esmolas para desempregados, ou ainda, se querem repavimentar estradas esburacadas ou construir pontes na Venezuela. Não seria bem mais conveniente para os nossos governantes manter o orçamento impositivo mesmo?
Dessa maneira, querer tomar para si a autoria do que de pior se fez no país nos últimos anos, como o PSDB está querendo fazer, parece-me uma idéia por demais estúpida. Como eu sempre afirmo neste blog, continuo procurando por uma real oposição.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Sonho de 26/09/1987

Para dormir, forcei um relaxamento, fixando toda a minha atenção num ponto do teto do quarto.
Pouco antes de acordar, mentalizei o meu corpo, pensava justamente nele. Vi-o totalmente relaxado, com as mãos sobre o peito. Mentalizei o peso das mãos e que elas afundavam no peito e lá ficava abrigadas, lá dentro. Pensava que agora que eu estava totalmente relaxado, poderia extender o corpo, colocando a cabeça entre os pés e assim o fiz. Entreabi os olhos e, acordado, vi o teto. Voltei a fechar e recomecei a concentração, as mãos estavam cada vez mais para dentro do peito e o corpo cada vez mais relaxado. Tentei novamente e coloquei a cabeça entre os pés. Entreabri os olhos e novamente percebi que tinha sido a minha imaginação.
Voltei a fechá-los. Passou-me pela cabeça um pensamento de que não mais acordaria, pois não conseguia me mover fisicamente. Tentei pela terceira vez. A sensação foi extremamente profunda e real, senti todos os detalhes do movimento, todas as extensões de músculos e a pressão da cabeça sobre os pés esticados.
Vi que não me mexera. Reuni forças e finalmente consegui me erguer. Acordado, tentei levar a cabeça aos pés, mas não consegui por não ter suficiente flexibilidade.
Acordei bastante revigorado pelo descanso.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Vi na TV

Eu acho aquela novela das 7 muito chata, mas como normalmente é horário que eu e minha mulher estamos chegando em casa, acabo assistindo. O que eu não esperava, era ver uma cena como a da semana passada em que a anja beijoqueira sai cantando “Besame Mucho” e beijando todos os homens da boate. Para quem não acompanha, o enredo trata de anjos que vêm a terra para auxiliar os mortais, mas acabam tendo de aprender sobre o comportamento humano. Uma delas (Cláudia Gimenez) faz de tudo para ver um homem pelado e a outra (Thalma de Freitas) aprendeu a beijar, agora só quer saber daquilo.
Jerry Lewis foi um divisor de águas no humor do cinema americano, quando o humor ingênuo (Buster Keaton, Harold Lloyd, Gordo e Magro...) foi substituído pelo humor malandro, abobalhado. O que é cômico nesse personagem da atriz é justamente retomar essa característica infantil das comédias antigas, o que sempre provoca resultados excelentes.
A cena, foi das coisas mais engraçadas que eu já vi na televisão na minha vida. Desde os tempos de Oscarito que não surgia um cômico tão bom. Leitores, anotem esse nome: Thalma de Freitas, pois quando essa atriz entrar para a história, lembrem que foi aqui no Bonowblog que viram o primeiro elogio rasgado a ela.

Mudando de assunto, eu entendi bem? O Roberto Jefferson aproveitou a propaganda do seu partido para insinuar que para manter os nossos interesses deveríamos ter invadido a Bolívia, como os Estados Unidos fizeram com o Iraque?
Quando aventaram a possibilidade de construir o gasoduto, o presidente Geisel, naquela época já foi contra: “...e quando a Bolívia resolver fechar a torneira, o que eu vou fazer? Invadir o país?”
Como todos que acompanham este blog sabem, não sou nada pró-PT, mas nas atuais circunstâncias, baixar a cabeça e pagar a extorsão que nos é imposta, é a solução mais barata até o campo de Tupi começar a produzir. O governo do Fernando Henrique fez a asneira de construir o gasoduto sem maiores garantias de fornecimento, agora, agüentemos.

Mudando de novo: viram aquela propaganda em que o menininho se mostra um gênio do piano enquanto a mãe só quer saber de beber o seu suco? Não é genial?

domingo, 18 de novembro de 2007

O Amor Contido

Nesse vagar sem direção ou sentido,
Por cada deserto, perdido,
E de cada olhar atento, banido,
Ferido estou por um amor contido.

O meu coração, que é de pedra dura,
Ao cinzel do amor abre a sua fissura,
Rende-se ao punção do amor que perfura
E atura esta dor que não tem cura

E o tempo, que é sempre um algoz,
Às vezes pára e não me mói mais nos seus mós,
Eu e eu mesmo ficamos tão a sós
No atroz silêncio que se impõe diante nós.

O amor contido está por dentro e está ao lado,
Só rasteja, mesmo se sabendo alado,
É restrito e pronto para ser espalhado,

É um brado que se mantém ainda calado.

sábado, 17 de novembro de 2007

Pontes Levadiças

Foto tirada em Boca Raton, FL

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Histórias Bizarras 9 – Deuses, parte 2

Existem muitas questões que já foram respondidas pela evolução do conhecimento e do engenho humano. Ainda que muitos contestem, parece não haver mais dúvidas dentre os mais instruídos da sociedade de que existe uma evolução nas espécies, lenta e constante, em direção ao aperfeiçoamento.
As teorias de Darwin foram observadas por um casal de cientistas durante a década de 90 do século XX, coincidentemente no mesmo local em que Darwin as desenvolveu, ilhas Galápagos. Estudando pássaros que haviam na ilha, observaram que existiam na mesma espécie alguns com bicos curtos, outros com bicos longos. Como naquele ano ocorreu uma seca prolongada nas ilhas, todos os pássaros de bico curto desapareceram, pois apenas os outros conseguiam beber água acumulada no tronco das árvores. Esse estudo, amplamente documentado, provou a verdade na teoria de Darwin.
Para se verificar que o ser humano também evolui, não é preciso ir muito longe. Armaduras antigas, camas e vão de portas nos mostram como as pessoas eram mais baixas há poucos séculos. Ao mesmo tempo, recordes olímpicos são constantemente superados, mostrando um aperfeiçoamento pequeno, porém notório do ser humano.
Dessa maneira, o próprio papa João Paulo II reconheceu que a idéia da evolução das espécies não era contrária aos dogmas católicos, assim como poucos anos antes ele já havia absolvido Galileu, reconhecendo assim que a terra girava em torno ao sol.
Portanto, não existe mais a “teoria” da evolução, pois é fato amplamente comprovado de que as espécies e o ser humano estão evoluindo lenta e constantemente.
Hoje as pessoas preferem acreditar em micróbios e vacinas a urucubacas e rezadeiras, vasculhou-se o espaço exterior à atmosfera e não se encontraram anjos. Cavaram-se poços profundos sem que encontrássemos o inferno, mas mesmo assim, subsiste a idéia de uma inteligência organizadora do cosmos e também de forças malévolas.

Em seu romance “Contato”, o famoso cientista e cético Carl Sagan nos coloca a idéia de que a evolução do pensamento pode inclusive nos levar à conclusão da existência dessa inteligência. O livro fala de um suposto comunicado de seres extraterrestres conosco. No final, os E.T.s nos enviam uma fórmula matemática extremamente complexa, cujo resultado seria o número PI. Conforme o autor, essa seria uma prova que o universo não é aleatório, que as coisas não acontecem simplesmente por acasos e evoluções.
Acontece que existe de fato um número que impregna em toda a natureza e este número intriga a humanidade há pelo menos 2500 anos. É o chamado número áureo. O número áurico representa a proporção da perna maior de um pentagrama com a lateral da face do pentágono em que ele está inscrito, que é a proporção de 1:1,618.
Esta proporção é a relação da falanginha com a falangeta dos nossos dedos. É a relação da falange com a falanginha. E da articulação do pulso com o comprimento do dedo. E do tamanho da mão com o antebraço. Além do corpo humano, as agulhas do pinheiro, a casca do abacaxi e um sem-número de ocorrências na natureza seguem esta proporção.
Se fizermos retângulos com esta proporção e formos inscrevendo retângulos menores dentro de maiores, e finalmente unirmos os vértices destes retângulos, obteremos uma curva exponencial que é a mesma curva existente em conchas, como a de um molusco chamado nautilus.
Fibonatti foi um matemático italiano que descobriu uma seqüência de números no qual o número seguinte é sempre representado pela soma dos dois anteriores: 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, etc. Uma curva formada pela série de Fibonatti segue a proporção áurea.
A proporção áurea é amplamente utilizada nas artes. Templos gregos foram construídos com esta proporção. Artistas como Leonardo daVinci ou Seurat lançaram mão deste recurso. É a proporção da harmonia entre as formas. Testes já foram realizados pedindo para que as pessoas escolhessem dentre retângulos de papelão com diversas proporções o que mais agradasse, sendo que e a maior parte do público preferiu justamente o retângulo com proporções áureas.
A questão é: por quê? Qual é a lógica deste número que nos parece totalmente aleatório? Como compreender que exista um número impregnando toda a natureza sem que exista uma determinação, uma inteligência definindo este número?
Veja-se bem. Este número não é uma constatação matemática, como a relação entre os triângulos, o número PI, o teorema de Pitágoras, etc. Devemos lembrar que toda a nossa teoria matemática, de base decimal, surgiu simplesmente porque temos dez dedos nas mãos e assim nos é mais fácil de fazer cálculos. Tudo aquilo que calculamos é uma abstração que desenvolvemos para se adaptar ao nosso organismo.
Acontece que o número áureo é diferente, não foi uma invenção humana, mas sim está presente em um número significativo de seres vivos. Esta relação matemática parece estar impregnada no cosmos, e mais, é um número relacionado com a vida, pois não se verifica esta relação em seres brutos, em formações cristalinas, por exemplo. Como a proporção áurica é obtida a partir do pentagrama, esse é o motivo porque nas tradições místicas antigas, esta figura representa o ser humano e sua conexão com a natureza.

A vida permanece sendo um mistério. Ainda na década de 50, um cientista provou que é possível reproduzir em laboratório as condições da atmosfera primitiva da terra, gerando aminoácidos que são os elementos químicos que possibilitam o surgimento de vida.
No entanto, mais de meio século depois ainda não conseguimos dar o sopro de vida. Eu, pessoalmente, até acho que isso é possível, alguma empresa ou fundação deveria lançar o desafio na comunidade científica e oferecer um prêmio para aquele pesquisador que conseguisse criar uma bactéria, ou qualquer forma de vida primitiva, a partir de matéria inerte.
A criação de vida artificial mudaria conceitos e traria uma profunda mudança social, principalmente no que se refere a pensamentos filosóficos e religiosos. Enquanto isso não acontece, precisamos admitir que é um grande mistério e que talvez não seja possível. Talvez a vida não esteja ao alcance do conhecimento ou do engenho humano e apenas uma inteligência cósmica pode dar o sopro que torne matéria orgânica em um ser que nasce, cresce e morre.
Mais próximo do nosso atual estado tecnológico, cientistas da Oceania estão tentando fazer o mesmo que aparece naquele filme, “Parque dos Dinossauros”, ou seja reviver uma espécie extinta. Estão tentando reviver um Tigre da Tasmânia, animal extinto a mais de 150 anos, tentando clonar células de animais conservados em formol e usando o ventre de uma canguru para desenvolver o experimento.
Se conseguirem isso, já vão calar muitos grupos de ecologistas. Para que precisamos de leões atacando populações rurais na África ou de tigres, matando gente na Índia, ou ainda de crocodilos devorando cachorros e crianças nos quintais de casas da Flórida? Bastaria exterminar esses animais e, se um dia fizerem alguma falta, clonar embriões e revivê-los para alguma necessidade científica! Será que nós próprios não poderemos brincar de Deus, no futuro?

Ligado à mesma idéia está o fato da consciência não ter se espalhado entre outras espécies animais. Elefantes fazem desenhos com as patas na areia da praia, gorilas promovem guerras de extermínio entre diferentes tribos. Diferentes animais sofrem com a morte de parentes próximos, mas tudo indica que o dom do conhecimento, do pensamento lógico e com o uso de palavras abstratas só pertence aos humanos.
Por quê?
Por que motivo só nós é que comemos do fruto da árvore do conhecimento e roubamos o fogo de Prometeu?
Pesquisadores já conseguiram criar um robô que evolui na sua inteligência, no momento em que escrevo tem a inteligência de uma minhoca. Há poucos anos este robô era tão estúpido quanto uma ameba, portanto está evoluindo muito rapidamente. Será que um dia ele chegará ao nível de um cão? E a inteligência artificial chegará no nível de um ser humano, com todas as suas incertezas e inseguranças? Quem sabe? E quem sabe se não nos superará o próprio criador e chegará a conclusões que nunca nos passaria pela cabeça?

Será, portanto, que existem deuses ou essa concepção é apenas fruto de nossa incapacidade atual em pesquisar assuntos que nos são misteriosos. Se um dia respondermos questões do porquê existe um número áureo, como criar vida ou como gerar consciência, será que nesse dia ainda vamos precisar de um deus?

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Por que por aqui as máfias não se transformam em empresas?

O filme “O Poderoso Chefão III” mostra a relação entre as máfias e o poder oficial, inclusive de sua penetração na Igreja Católica. Uma coisa que eu nunca consegui entender é por que isso não acontece por aqui exatamente da mesma maneira que no filme?
Parece uma conseqüência lógica. Raciocinemos: quando um criminoso quer ganhar muito dinheiro, ele se agrupa em amigos ou famílias. Esses grupos acabam tendo necessidade de se estabelecer em empresas e buscar a proximidade ao poder. Até aí, tudo bem, isso acontece por aqui também.
O que não acontece é que essas empresas, mesmo que criadas de forma ilícita, acabam tendo que seguir os mesmos passos que as grandes corporações: buscar gerar o máximo lucro através da redução de impostos, investir na melhor formação dos seus profissionais, ações sociais com finalidade de campanhas de marketing, etc.
Onde eu quero chegar? Que a impressão que me dá, é que o dinheiro do crime em outros países, acaba sendo transformado em melhorias do próprio país. Claro, não estou afirmando com isso que o ato ilegal venha a ser um benefício, pois é preciso considerar o capital perdido em vidas, investimento em segurança, etc. que poderia estar sendo investido na cadeia produtiva, mas dentro do paradigma da inevitável incompetência dos governos em gerir as atitudes marginais, alguns países acabam sublimando esse problema, e nós, não.
Eu tenho uma idéia para quem quiser defender uma tese. Como pôde ser visto ontem pela TV, com a repetição da prisão do maior contrabandista do país, os criminosos por aqui preferem permanecer indefinidamente na informalidade. Aliás, até mesmo os empresários e os trabalhadores também preferem, afinal quem é que quer ter que pagar os impostos extorsivos que o nosso governo cobra?
Assim, enquanto em outros países o crime organizado fica cada vez mais organizado, por aqui, fica cada vez mais crime.
A pergunta a ser feita é, será que não é o próprio estado brasileiro que gera esse fato? Cada vez existem mais marginais, mas do jeito que as coisas caminham, será que um dia não viveremos todos nós à margem?

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Algumas Histórias de Família

Na década de 40, meu pai que era engenheiro agrônomo, foi contratado por uma estação experimental de pesquisa de trigo em Júlio de Castilhos, RS. Para ir para o trabalho, ele caminhava todos os dias pelos trilhos do trem, uns dois quilômetros, até uma chácara onde ele deixava o seu cavalo. Daí, colocava os arreios e cavalgava até o serviço. A chácara era da minha vó e foi dessas idas e vindas que os meus pais se conheceram. História romântica, não?
Uns cinqüenta anos depois, ele foi visitar o local e o atual agrônomo da estação foi acompanhá-lo. Lá pelas tantas, ele reclamou: “- Então, o senhor que é o Dr. Bonow? Nem sabe como tem me prejudicado!” “-Por quê?”, perguntou meu pai. “Porque”, respondeu o engenheiro, “Toda vez que eu peço para comprarem uma nova camionete para eu vir até aqui, me contestam com um “- Ora, mas o Bonow vinha à cavalo!””.
Meu tio Germano foi juiz de direito no Amapá, na época em que ainda era território. O filho dele, o atual deputado federal Germano Bonow foi médico sanitarista lá na Amazônia também. Um dia, meu tio encontrou um amigo na rua que falou:
- Olha, agora tu não podes te vangloriar sozinho de ter família que conquistou a Amazônia. Minha filha está trabalhando por lá também!
- Onde? – Perguntou meu tio.
- Em São Gabriel da Cachoeira .
- É mesmo? Então diz prá ela procurar meu sobrinho, Carlos, que mora por lá!
Meu irmão, que é geólogo, estava trabalhando na cidade...
Uma outra vez, esse meu tio chegou em um empório que existia em Porto Alegre, o Armazém Riograndense e pediu para o balconista:
- Quero trezentos gramas de bah-com!
- De quê?
- De bah-com.
- O que é isso?
Apontando a vitrina: - Aquilo ali, ó. Trezentos gramas.
- Ah! Bacon!
- Tem bacon também? Então me dá mais trezentos gramas.
- Como assim? É a mesma coisa!
- Se é a mesma coisa, posso saber por que tu estás me incomodando?
O que chamávamos de chácara da minha avó era na verdade uma fazendola, com uns cinco quilômetros de profundidade. Para chegar até o final, tinha-se que passar por muitos mata-burros, que, para quem não sabe, são buracos cobertos com trilhos paralelos que não permitem que o gado passe de um cercado para outro e ao mesmo tempo possibilita aos motoristas passarem sem abrir uma sucessão de porteiras. Um dia, meu pai foi com o sócio dele de carro visitar umas lavouras no final da propriedade e lá pelas tantas, chegou a minha avó, sozinha, de charrete.
Eles ficaram surpresos, pois ela já era uma senhora de idade avançada e perguntaram quem havia aberto as porteiras.
“Que porteira?”, perguntou ela que havia cruzado uns cinco mata-burros sem quebrar a perna do cavalo.
Outra vez, estávamos indo pegar um trem na estação ferroviária em Porto Alegre, eu e meus pais, e fomos apanhar um táxi na esquina da rua em que morávamos. Era noite e meu pai fez sinal para um automóvel, que parou. Carregamos as malas no porta-malas e embarcamos. Quando falou o destino para o motorista, minha mãe o reconheceu. Era o açougueiro do bairro no seu carro particular que estava passando e, vendo a sua cliente habitual fazer sinal, parou. Esclarecido o incidente, levou a mim e aos meus constrangidos pais para a estação.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

O Rodamoinho

Uma vez eu e um amigo resolvemos viajar da cidade de Lajeado para Porto Alegre. De Caiaque. 120Km pelo Rio Taquari. Quando partimos, estava chovendo e o rio estava alto e rápido.
O Rio Taquari praticamente não tem praia ou, como se chama no Rio Grande do Sul, é um rio de “barrancas” de uns cinco metros de altura, isso é, se afundassem os caiaques, teríamos que nadar alguns quilômetros até encontrarmos um local para subir a terra.
Depois de umas cinco horas remando sob chuva forte, encontramos um afluente, o Rio Cruzeiro do Sul que na carta náutica (sim, eu tinha um xerox plastificado de uma carta náutica da região, sempre fui organizado nas minhas insanidades!), bem, na carta náutica parecia um corregozinho, mas com toda a inundação havia se transformado em um Amazonas.
Ao cruzarmos o meio desses dois rios, olhei para o lado e falei para o meu amigo: “- Ô, Miguel, acho que erramos o rio, pois estamos descendo e aquele tronco de árvore ali está subindo a correnteza.”
Depois de dez segundos com os olhares de bobos, finalmente caíram as fichas: estávamos no meio de um rodamoinho. Para sair dali, remamos com força e para encurtar a história, acabei virando o barco, perdendo óculos e cantil para as profundezas do Taquari. Agarrei-me no barco do meu amigo e demos a sorte de em menos de cem metros encontrarmos uma rampa para barcos, o que me poupou de uma possível hipotermia que ocorreria até acharmos o próximo acesso ao rio.
Essa história toda é para ilustrar de como em certas situações a gente não consegue enxergar o todo. Quando estamos em uma correnteza, é difícil ver os rodamoinhos e os iminentes perigos.
Às vezes penso que a nossa população está assim, estupidificada no meio de um rodamoinho, sem perceber que a coisa não está maravilhosa como a mídia e os números indicam.
Aumentam as exportações: precisamos mais servidores públicos para cobrarem impostos, alegam os nossos governantes. Encontrou-se um grande lençol de petróleo: aumentemos os empregados da Petrobrás! Arrecada-se mais impostos: aumentemos as benesses para aqueles que não fazem esforço para produzir! O que parece que todos esquecem é que essa cornucópia de belezas terá um fim e os gastos permanentes que ela gerou, não. Um dia vai secar a fonte e, note-se, ela vai secar com toda a certeza, pois moto-contínuos não existem, um dia todos nós teremos que pagar a conta. Historicamente, o capitalismo mundial tem altos e baixo e hoje estamos no alto.
A sementinha que deveria estar sendo plantada para suportarmos os dias frios dos invernos vindouros está apodrecendo à margem das rodovias esburacadas. As casas sem saneamento, as escolas que não ensinam e os aeroportos perigosos podem até ser esquecidos em um momento em que a população embevecida come mais chocolates e compra DVDs, mas estão ali, como uma chaga prestes a gangrenar, antecipando a amputação do nosso futuro.
E o que se vai falar quando os responsáveis por essa semeadura já tiverem transferido a colheita maldita para os seus sucessores? O mesmo que os incautos falam atualmente do governo de Getúlio, mudando apenas a mosca: “- Bom mesmo era no tempo do Lula, o Brasil nunca progrediu tanto!”. As pessoas vão esquecer que as causas de nossa desgraça futura estão justamente na farta distribuição de riquezas produzidas por outros em contraposição ao abandono da criação de infra-estrutura necessária para que as gerações futuras possam galgar os degraus necessários à sua auto-gestão.
Para perceber o rodamoinho não podemos olhar apenas à ponta do caiaque. Sair desse turbilhão é tarefa árdua, é preciso remar com força e correr o risco de virar, mas é necessário, é questão de sobrevivência.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Sonhos Lúdicos

Depois do texto Vanilla Sky , da semana passada, recebi algumas perguntas sobre técnicas de consciência via comentários e via e-mail que vou tentar responder.
Sobre livros. Recomendo três, todos best selleres, que não têm nada a ver com sonhos lúcidos ou yoga, mas que precisam ser lidos. “O Mundo Assombrado pelos Demônios”, de Carl Sagan fala da importância de manter a mente lúcida e de como se ter parâmetros corretos para que não deixemos nos enganar por crendices e supertições. Ainda de Sagan, recomendo “Os Dragões do Éden” sobre o funcionamento do cérebro. Um outro livro muito interessante é “O Homem que Confundiu a sua Mulher com Um Chapéu”, de Oliver Sacks. O autor é um neurologista que reuniu algumas histórias de seus pacientes com lesões cerebrais e de como eles passaram a interagir com o mundo ao redor.
Antes de começar a voar, é preciso primeiro colocar os dois pés no chão para não se cair nem num misticismo infundado e nem em charlatanismo.
Uma breve pesquisa no Google já nos traz vários sites, como o www.voadores.com.br, o www.viagemastral.com ou ainda o www.ippb.org.br, todos com experiências de pessoas que pesquisam sonhos lúcidos e projeções (existe diferença). Esses dias descobri também o http://cronicasdofrank.blogspot.com.
Muito bem. Para os mais hi-tec, existem aparelhinhos eletrônicos chamados “dream machines” que são máscaras de dormir com sensores no local das pálpebras. Quando o usuário começa a sonhar na fase REM (movimento rápido dos olhos), o equipamento acende uma luzinha e aciona um gravador com a mensagem previamente gravada com a própria voz, informando que se está sonhando. Dessa maneira, passas-se de um sonho comum a um sonho lúcido.
O segundo aparelhinho, a “brain machine” para ser compreendida a sua utilidade é interessante ter uma certa prática em yoga e em sonhos lúcidos. Como eu já disse em postagens anteriores o mundo “sagrado”, ou seja, o estado de interiorização conseguido com meditação, transe ou sonhos tem um “portal” de entrada, um som chamado binatural. Esse aparelho gera esse tipo de som, ligado com luzes estroboscópicas coordenadas.
Por experiência pode=-se afirmar que o som de entrada no “sagrado” é o de cantos gregorianos, o “OM” indiano ou mais simplesmente, o de um transformador, desses de rua, prestes a pifar: um zunido de uns 60Hz, modulado por uma freqüência mais baixa, uns 5Hz. Pois bem, quando se pratica o yoga, o som mais alto é mais presente e quando se dorme, o de freqüência mais baixa. Não sei porque acontece, sou leigo, só conheço de prática, acredito que os neurologistas devem ter algum estudo sobre isso, pois se não tiverem estão perdendo uma grande oportunidade de ganharem o prêmio Nobel. Que o fenômeno existe, isso existe.
Agora: por que eu não me convenço que seja verdade? Em primeiro lugar, leio muitos relatos em português falando de espíritos e figuras de umbanda. Será que isso não ocorre porque os sonhadores estão conectados a uma cultura brasileira? Tenho as minhas dúvidas se um irlandês não iria ver duendes e fadas e um árabe, anjos e demônios. Aparentemente a cultura interfere nos sonhos, o que já é um indício de irrealidade.
Outra coisa. Se dá prá sair do corpo dormindo, voar até a sala de estar e ler a capa da revista sobre a mesa, isso não seria passível de prova? E por que ninguém ainda ganhou o 1 milhão de dólares oferecido por James Randi, aquele mágico americano que paga para quem provar um fenômeno paranormal? Aparentemente, conectar o sonho com a realidade é meio complicado.
Irrealidade que, repito, é divertidíssima. Pelo fato do Indiana Jones não ser real, não quer dizer que não valha a pena ir ao cinema. Da mesma maneira, acreditando ou não no conteúdo dos sonhos lúcidos, antes de mais nada, eles serão sempre sonhos lúdicos.

domingo, 11 de novembro de 2007

No Rio

Estou no barco, dentro do rio
(Abarco o rio quando embarco)
Sozinho eu penso e desvario,
Dispenso o senso, este imenso manancial vazio.

Estou no rio e como o rio eu penso poderoso e lento
Eu penso e rio e penso o rio:
O rio é vento,
O rio barrento é sedento de esquecimento,
O rio é esquecimento.

No rio está imerso tudo aquilo que eu temo,
Por isso eu remo e faço versos
Crio um outro universo
Disperso no rio, inverso e reverso.

Aceno com a extensão da minha mão, o remo
E como o rio e como o verso, eu sou a criação
Um daqueles que criam a ação, o humano motor,
E como ateu aquático
Eu domo aquele sádico antipático que cria a dor:
O criador, o deus da irrealidade,
O pretensioso senhor do inferno da eternidade.

Nada é eterno! A realidade será esquecida.
Tudo está por um fio, até esta verdade alagada,
O cio da vida que é o rio, o rio da água passada,
O rio que flui onde o espaço é um enleio
E onde eu rio, passo, penso, poemeio e remo.

sábado, 10 de novembro de 2007

Profissão: Perigo

Dá prá notar que tem um cara pendurado prá fora do helicóptero, consertando os cabos?
Quando passei na estrada, às 9 da manhã ele já estava trabalhando. Quando voltei, às 4 da tarde, ele continuava por lá, daí não resisti e tirei a foto.
De longe, tive a impressão que ele usava um canivetinho. Devia ser o McGiver.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Destino

Carlos Augusto se deixou convencer pela noiva, Elenora, a ir em uma cartomante que era muito poderosa e que poderia dizer-lhe qual seria o futuro dos dois e se ela iria passar no vestibular. Não que o rapaz acreditasse nessas coisas, mas também não duvidava, afinal como estudante de física deveria estar aberto a todas as possibilidades do cosmos.
Ao chegar lá, foram conduzidos até a sala de espera da casa e ficaram ali por algum tempo até que a vidente tomasse os seus banhos de sal grosso para descarregar o encosto que tirara do último cliente.
Chegou na saleta, fumando um cigarro e vestida com um robe cor-de-rosa, e os conduziu até um quartinho iluminado apenas por velas. Sentaram-se em torno de uma mesa de cinco cantos e Carlos Augusto foi instruído a alçar o baralho com a mão esquerda, a mão do coração.
Ela foi virando as cartas. A primeira carta, foi "La Muerte", A Morte, traduziu a cartomante, para o susto do casal. Depois ela traduziu as cartas seguintes: "El Diablo", O Diabo, "La Torre de la Destrucción", A Torre da Destruição e, brandindo a carta no ar mostrou a figura de um homem enforcado pelo pé cujo o nome era "El Ahorcado". Por fim, a terrível revelação final, O Enamorado.
Um sobressalto apoderou-se da cartomante. Imediatamente, ela levantou-se e, sem dar explicações e nem cobrar nada, pediu que saíssem.
O Carlos Augusto saiu de lá praguejando, dizendo que aquilo era uma charlatanice e que iria denunciar à polícia, mas Elenora ponderou com lógica que a cartomante nem sequer cobrara, o que dava credibilidade ao que quer que fosse que ela tivesse visto nas cartas.
A dúvida ficou plantada. O que seria?
Sob protestos do Carlos Augusto, encontraram, através de um anúncio de jornal, uma cigana iniciada nas artes do ocultismo. Logo que lá chegaram, mostraram as suas mãos, ela olhou por alguns instantes e foi logo dizendo que sentia muito, mas não podia revelar o que vira. Só recomendou que resolvessem todos os assuntos pendentes na vida e por mais que insistissem, não revelou mais nada.
Aí, o Carlos Augusto começou a se preocupar. Resolveram procurar um astrólogo. Telefonaram, deixaram o dia e a hora de nascimento de cada um e marcaram uma consulta para dali a dois dias. No dia marcado, o astrólogo comunicou que estava doente e que não poderia mais atendê-los. Que procurassem outra pessoa.
Coisa semelhante aconteceu com a mãe-de-santo, ao jogar os seus búzios, com o numerólogo, com o piramidólogo, o I Ching e com a médium vidente.
Não havia mais dúvidas. Algo terrível esperava o casal no astral inferior, só que eles não sabiam o quê. Elenora fez oferendas à Iemanjá e, sob protestos da família, com quem ela morava, colocou uma estátua de Buda na sala e um copo cheio d'água, com uma imagem da Virgem ao lado da cama. Comprou um elefante com a tromba para cima, um pé-de-coelho e uma gravura de Krishna, afinal essas coisas nunca são demais e é bom não duvidar do além.
Carlos Augusto, por sua vez, virou chacota dos colegas da faculdade, porque passou a andar sempre com uma figa e um crucifixo pendurados ao pescoço. Ao invés da vida de Galileu, seu livro de cabeceira, passou a ler o Livro Tibetano dos Mortos e o Bagavtha Gita.
Para o desespero da família, Elenora mudou de opção no vestibular. Ao invés de odontologia, resolveu fazer filosofia, para se conhecer melhor, mas invés disso conheceu um professor bonitão, casou-se com ele e teve vários filhos. Carlos Augusto, percebeu também que não mais podia se interessar apenas pelas coisas da matéria. Resolveu estudar teologia, tornou-se um bom padre e nunca mais viu Elenora.
Afinal, seria muita insensatez da parte deles ficarem juntos e desafiar aquilo que já estava escrito.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Vácuos de Papel

Angústia da página em branco? Nunca tive. Nunca entendi quem tem. Assunto para escrever nunca falta, o universo é amplo, para mim falta mais é tempo para colocar tudo o que eu gostaria.
Eu abro o Word e saio escrevendo, qualquer assunto é assunto, aliás, sempre digo que um escritor que se preze tem que saber colocar no papel tanto uma monografia quanto um hai-cai, escrever é um ato único, não interessa a forma.
O desenho já é uma coisa mais ampla, mas também é uma forma de escrever. Fundamentos de desenho deveriam ser ensinados na escola. Poucas pessoas sabem que um traço mais grosso significa que aquele traço está na frente de um outro mais fino. Isso é linguagem, é preciso aprender. Poucas pessoas percebem que linhas paralelas se dirigem a um mesmo ponto, o chamado ponto de fuga. Há quinhentos anos que isso foi descoberto e pouquíssimas pessoas têm essa informação.
Aprender outras línguas também nos fazem pensar na nossa própria. Por que um beija-flor não pode se chamar “pássaro zunidor”? Em inglês se chama. E borboletas não seriam “moscas de manteiga”? Poesias prontas. O espanhol nos lembram palavras do português antigo: alfombra, estúpido no sentido de ignorante, cerro, chiste... E o francês e o alemão com seus “on” e seu “man” para representar o reflexivo, palavras que faltam no português. Cama é uma palavra feminina? Em francês, é masculina. De onde tiramos que camas têm sexo? E meninas que são palavras sem sexo em alemão? E sol e lua, por que sempre associamos ao masculino e ao feminino, não interessa a língua?
Aliás, diz-se que uma idéia só existe quando existe uma palavra para a definir. Como se chama o conjunto de papéis de uma empresa: cartão de visita, papel timbrado, etc. Em inglês se chama “stationary”. E uma hora marcada? É um “appointment”. E colocar um livro em pé ou deitado em uma estante tem diferença? Em alemão, tem.
E a linguagem do corpo? Como criar um personagem sem saber que quando ele coça o rosto, tem boas chances de estar mentindo? E quando a moça mexe sensualmente no cabelo quer seduzir o rapaz.
Para acabar com a angústia da página em branco, é tudo uma questão de linguagem, basta apanhar peças esparsas deste imenso quebra-cabeças chamado vida e organizá-las nas diversas formas em que ela se manifesta a nós.
Dominar os códigos, é dominar a essência das coisas e a única maneira de conseguir acabar com os vácuos de papel.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Histórias Bizarras 8 - Deuses, parte 1

A pior pergunta que se pode fazer a um ateu é “Então, quem criou o mundo?”, simplesmente porque se pode receber a réplica “E quem criou Deus?”
Esta pergunta é o cerne do ateísmo. Por que criar mais uma etapa na dúvida? Se alguém acredita que Deus sempre existiu, por que não acreditar que o mundo sempre existiu, eliminando assim o intermediário?
Ao mesmo tempo, como seguir uma religião? Aquela história de que cada um cultua o mesmo Deus da sua maneira, é conversa fiada para boi dormir. As religiões são totalmente antagônicas. Não é possível acreditar em céu e em reencarnação ao mesmo tempo. E nem em umbanda e judaísmo ou em zen budismo e catolicismo. Nem ao menos protestantes e católicos ou mesmo diferentes correntes de protestantismo têm diálogo. Em outras palavras, se um pensamento religioso estiver certo, todos os outros estarão necessariamente errados. Como poderia existir um inferno se existisse a evolução do carma? Como, ao mesmo tempo, poderia existir e não existir o dogma da virgindade de Maria?
Portanto, só nos restam duas opções lógicas: ou uma religião, dentre todas que existem no mundo, está certa e todas as demais, erradas; ou todas as religiões estão erradas.
Voltaire, um deísta, ou seja, um homem que acreditava em Deus, mas não nos religiosos, falou a seguinte frase: “Quando o primeiro malandro se encontrou com o primeiro otário, formou-se a primeira religião.” Ao mesmo tempo, ele dizia que largar os elementos do mundo ao acaso e formar o mundo organizado como vemos, seria o mesmo que misturar mecanismos de um relógio a esmo e esperar formar um relógio.
A crença de um deus independe de qualquer pensamento religioso, assim como a descrença não decorre em uma falha em se maravilhar com o mundo que nos cerca. Ambos os lados possuem fortes argumentos.
A primeira questão a respeito da existência de um deus é a questão da conceitualização. O que primeiro devemos nos perguntar é “o que é deus?”.
“Verde e Saltitante” pode tanto ser um sapo quanto um pula-pula, depende. Portanto definir deus como “O Criador e Onipotente”, não é uma boa resposta porque não se pode esperar definir algo pelas suas características.
Para definirmos o conceito de um deus temos que necessariamente passar pela palavra “ser”, Ser Supremo, Ser Onipresente, etc., mas daí nos remeteremos aos três tipos de seres que existem, brutos, vivos e imaginários.
Certamente nenhum religioso ou deísta irá defender a idéia de que seu deus é um ser inanimado. Seres vivos nascem, crescem e morrem, o que também nos afasta da idéia de um ser supremo, diferente de todos os outros que neste mundo existem. Seriam os deuses seres imaginários? Não creio tampouco que alguém defenda essa idéia.
O conhecimento e a palavra são definidos em grego pelo mesmo termo, logos. No entanto, além da definição, existe uma segunda maneira de definir a existência, pela exemplificação. Não é possível definirmos uma cor para um cego, mas qualquer pessoa que enxergue irá imediatamente compreender o que significa “amarelo”.
Acontece que os deuses não podem ser exemplificados pela experiência direta.
Dessa forma, chegamos ao pensamento lógico de um ateu:
Tudo o que existe pode ser definido ou exemplificado,
Deuses não podem ser definidos ou exemplificados,
Logo, deuses não existem.

Por um outro lado, precisamos pensar se existe uma inteligência organizadora do cosmos, um “relojoeiro” que organize o caos do universo porque a questão desse ponto de vista também é pertinente. Ainda que não exista uma definição ou uma exemplificação daquilo que o ser humano busca como verdade última, mesmo assim, temos muitas lacunas na nossa compreensão de nossas origens e estrutura do mundo em que vivemos. Talvez essas questões venham a ser no porvir preenchidas com os conhecimentos e elaborações de pensamentos dos homens do futuro, ou talvez permaneçam sempre como mistérios inexplicáveis.