sexta-feira, 15 de junho de 2007

Narrativas Inverossímeis

Fico impressionado com a distância que existe entre o senso comum e o bom senso. Se vox populi fosse realmente vox dei, esse deus seria um idiota, pois como dizia Nélson Rodrigues toda a unanimidade é burra e sua voz é a dos disparates.
Nas novelas de TV sempre que alguém abre um negócio, é um comércio e esse comércio é um sucesso, não importa quanto capital ou capacidade empreendedora o personagem tenha. Jamais aparece um fiscal pedindo suborno, nem é preciso percorrer intermináveis corredores de repartições públicas, correr atrás de clientes, passar por calotes, etc. Quantas empresas brasileiras chegam a um ano de vida? Nas novelas, todas!
Tudo bem, a gente até acredita, assim como acredita que quando tocam a campainha em pleno Rio de Janeiro, as pessoas vão lá e escancaram a porta sem nem ao menos olhar no olho mágico, faz parte da linguagem televisiva, naquele caso a gente aceita, só que acontece que com relação às empresas muita gente realmente pensa assim.
Em uma reportagem da Revista Exame, fizeram uma pergunta a vários executivos de grandes companhias sobre qual seria a função do negócio. A resposta da maioria foi: gerar lucro.
Óbvio ululante. Ninguém cria uma empresa para fazer caridade, os aspectos positivos do mundo corporativo como gerar emprego, criar bens e serviços para a sociedade, gerar impostos para projetos sociais, etc. são conseqüências, não causas. Aqueles executivos que responderam o contrário deveriam ser demitidos por justa causa! Aqueles que acreditam que o objetivo das empresas é outra que não o lucro andam muito perto de serem imbecis perfeitos e só não são por um único motivo: na vida nada é perfeito.
Certo? É mesmo, só que quando a pesquisa foi feita com a população das ruas, a resposta se inverteu, a função das empresas seria gerar empregos (como vai gerar empregos sem lucro?), criar projetos sociais (como vai gerar projetos sociais sem lucro?) , combater a pobreza (como, sem lucro?) e bobagens dessa estatura.
É o velho pensamento mágico do brasileiro que acha que tudo cai do céu como um maná sagrado e os nossos governantes fazem questão de incentivar esse pensamento para conseguir se manter no poder e assim poder extorquir mais dinheiro daqueles que produzem riqueza.
De qualquer forma, os autores de novela deveriam ilustrar melhor a realidade e não repetir a ideologia dominante, criando ainda mais dificuldades para os empreendedores e anunciantes que pagam seus gordos salários.

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