segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Paul e os Cubanos

Conheci o Paul em um hotel no Sul da Flórida. Ele era da Tchecoslováquia e era o atendente em um barzinho de piscina, sempre com a TV ligada. A sua profissão parecia ser a de servir e bater papo com bêbados. Sujeito gente-boa, simpático, mas fechadão, pouco se sabia da vida dele.
O mistério começou a ser desvendado quando conheci uma moça eslovaca que era amiga de família e tinha vindo passar uns tempos na América.
Na época da guerra fria, Paul tinha sido jogador da seleção de hóquei daquele país. Quando foram jogar na Áustria, ele se afastou do grupo, foi até a embaixada americana e pediu asilo político.
Muito bem, um dia essa amiga de família foi a sua casa. Chegando lá, era uma mansão, no melhor bairro da cidade, com iate e carrões na garagem. Como pode, perguntou ela? Um barman, está certo que é nos Estados Unidos, mas com um padrão de vida como aquele?
Simples. Paul amava esportes e sabia tudo a respeito deles. Então ele fazia apostas e tinha grandes possibilidades de ganhar: a profissão dele era a de assistir disputas na TV, servir os drinques para os bêbados era só o hobby...
É claro que nunca mais voltou para viver na sua terra, mesmo depois de cair o muro de Berlim. Para quê?
Contei essa história só para comparar o futuro de um exilado político nos Estados Unidos e no Brasil. Quando os cubanos se afastaram da delegação, foram procurados pela nossa polícia e deportados diretamente para uma masmorra caribenha. Fidel jura que eles não sofrerão represálias, mas alguém acredita? O único crime deles é o de almejar o direito legítimo de todo ser humano à liberdade e à vida, não tiveram chance de defesa e nem de falar com os repórteres! E a grande imprensa caladinha, como sempre, divulgando a versão oficial de que estavam protegidos, reclusos em endereço desconhecido para “não serem aliciados pelos maldosos empresários do esporte”.
O mais estúpido é que os mesmos que sempre criticaram o ato de Getúlio Vargas ter deportado Olga Benario, fizeram a mesma coisa com os cubanos, mandaram eles direto para as garras do Hitler das Américas!
Quem mandou não procurarem um consulado de país de primeiro mundo, como fez o Paul? Pularam do fogo para frigideira. De onde será que eles tiraram a idéia que as autoridades brasileiras têm um mínimo respeito pelas vidas e dignidade humanas?
Por tudo isso, deveriam ter enviado um cartãozinho junto com a carta de deportação: “Saludos! Unos regalitos para Fidel de los perritos de Fidel...”?

Um comentário:

Anônimo disse...

E olha que era para ser uma verdadeira "debandada em massa" (sobre a delegação cubana).

Se bem que, se não me engano, alguns dos atletas que fugiram foram para o estrangeiro, mesmo - decerto por serem, digamos, melhor informados do que esses pobres boxeadores.