quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Algumas Histórias de Família

Na década de 40, meu pai que era engenheiro agrônomo, foi contratado por uma estação experimental de pesquisa de trigo em Júlio de Castilhos, RS. Para ir para o trabalho, ele caminhava todos os dias pelos trilhos do trem, uns dois quilômetros, até uma chácara onde ele deixava o seu cavalo. Daí, colocava os arreios e cavalgava até o serviço. A chácara era da minha vó e foi dessas idas e vindas que os meus pais se conheceram. História romântica, não?
Uns cinqüenta anos depois, ele foi visitar o local e o atual agrônomo da estação foi acompanhá-lo. Lá pelas tantas, ele reclamou: “- Então, o senhor que é o Dr. Bonow? Nem sabe como tem me prejudicado!” “-Por quê?”, perguntou meu pai. “Porque”, respondeu o engenheiro, “Toda vez que eu peço para comprarem uma nova camionete para eu vir até aqui, me contestam com um “- Ora, mas o Bonow vinha à cavalo!””.
Meu tio Germano foi juiz de direito no Amapá, na época em que ainda era território. O filho dele, o atual deputado federal Germano Bonow foi médico sanitarista lá na Amazônia também. Um dia, meu tio encontrou um amigo na rua que falou:
- Olha, agora tu não podes te vangloriar sozinho de ter família que conquistou a Amazônia. Minha filha está trabalhando por lá também!
- Onde? – Perguntou meu tio.
- Em São Gabriel da Cachoeira .
- É mesmo? Então diz prá ela procurar meu sobrinho, Carlos, que mora por lá!
Meu irmão, que é geólogo, estava trabalhando na cidade...
Uma outra vez, esse meu tio chegou em um empório que existia em Porto Alegre, o Armazém Riograndense e pediu para o balconista:
- Quero trezentos gramas de bah-com!
- De quê?
- De bah-com.
- O que é isso?
Apontando a vitrina: - Aquilo ali, ó. Trezentos gramas.
- Ah! Bacon!
- Tem bacon também? Então me dá mais trezentos gramas.
- Como assim? É a mesma coisa!
- Se é a mesma coisa, posso saber por que tu estás me incomodando?
O que chamávamos de chácara da minha avó era na verdade uma fazendola, com uns cinco quilômetros de profundidade. Para chegar até o final, tinha-se que passar por muitos mata-burros, que, para quem não sabe, são buracos cobertos com trilhos paralelos que não permitem que o gado passe de um cercado para outro e ao mesmo tempo possibilita aos motoristas passarem sem abrir uma sucessão de porteiras. Um dia, meu pai foi com o sócio dele de carro visitar umas lavouras no final da propriedade e lá pelas tantas, chegou a minha avó, sozinha, de charrete.
Eles ficaram surpresos, pois ela já era uma senhora de idade avançada e perguntaram quem havia aberto as porteiras.
“Que porteira?”, perguntou ela que havia cruzado uns cinco mata-burros sem quebrar a perna do cavalo.
Outra vez, estávamos indo pegar um trem na estação ferroviária em Porto Alegre, eu e meus pais, e fomos apanhar um táxi na esquina da rua em que morávamos. Era noite e meu pai fez sinal para um automóvel, que parou. Carregamos as malas no porta-malas e embarcamos. Quando falou o destino para o motorista, minha mãe o reconheceu. Era o açougueiro do bairro no seu carro particular que estava passando e, vendo a sua cliente habitual fazer sinal, parou. Esclarecido o incidente, levou a mim e aos meus constrangidos pais para a estação.

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