domingo, 1 de fevereiro de 2009

Energia Barata

Hoje eu estava assistindo na TV um programa sobre umas “scooteres” elétricas que foram lançadas recentemente, falando das vantagens de não se precisar reabastecer o veículo.
O mito da eletricidade é das mentiras mais bem contadas para os leigos. É impressionante como as pessoas acreditam que um veículo elétrico poderia rodar praticamente sem gastos e que existe um complô internacional dos fabricantes de automóveis para que as pessoas usem carros à gasolina.
Basta um pouco de pensar para que percebamos que isso não é verdade.
Iniciando o raciocínio: por que no nosso país é preferível usar chuveiro a gás do que elétrico? Simples, além de aquecer mais, o gás (GLP, de petróleo) é mais barato, todos sabemos. Por que hotéis e outras empresas preferem usar um gerador a diesel em horários de pico do que usar a eletricidade da rua? Por que o diesel é mais barato do que eletricidade...
Está certo que é uma energia menos poluente, mas quem disse que eletricidade é barata? Comparada a outras formas, é extremamente dispendiosa, pois necessita de massivos investimentos, normalmente estatais, que nem sempre são feitos. Para controlar o consumo, os governos aumentam o preço, lei da oferta e da demanda.
Sabendo disso, as distribuidoras de petróleo simplesmente fazem os seus preços despencarem, de maneira que os investimentos em energias alternativas ou concorrenciais não compensem. Foi o caso dos recentes aumentos do petróleo, quando o barril começou a se aproximar dos duzentos dólares, os cartéis acenderam a luz vermelha, pois começaram a surgir carros com célula de combustível, o álcool brasileiro começou a se tornar viável e a caríssima exploração dos campos da Petrobrás em águas profundas começou a valer o investimento. Com 45 dólares o barril, tudo isso saiu das manchetes, ficou caro.
Isso é um fenômeno mundial. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde existe muito mais infra-estrutura e a eletricidade é bem mais barata, a ponto de praticamente não se usar gás doméstico, a gasolina também acompanha esse custo baixo, pois os produtores de petróleo sabem muito bem que se cobrarem muito, as pessoas vão procurar alternativas energéticas, o que é extremamente danoso aos negócios. O mesmo vale para o álcool: nos estados em que o custo de transporte do álcool é mais alto (RS, SC...), o preço da gasolina também é, mantendo sempre a concorrência.
A mesma lógica de custo de eletricidade vale também para outros veículos: células de combustível (hidrogênio), ar comprimido, volantes de inércia, etc. se valem da eletricidade para atuarem, sendo portanto caros.
Qual é a solução, portanto, para baixar o preço nos postos de gasolina? Investir em infra-estrutura do setor elétrico! Por esse motivo que existe tanta pressão contra usinas hidrelétricas e nucleares, pois produzir eletricidade, significa, baixar os preços praticados pelas grandes distribuidoras. Poderosos “lobbies” e alguns ambientalistas vendidos fazem de tudo para que a eletricidade continue caríssima por aqui. Como a eletricidade é fruto da ineficiência estatal e os derivados de petróleo correspondem à competência de um ágil e altamente lucrativo setor privado, este sempre levará vantagens sobre aquele.
E, os incautos argumentarão mais um pouco, os painéis solares não serão a solução? Afinal, se cada um produzir a sua própria energia a eletricidade custará menos e, baseados no raciocínio aqui exposto, o petróleo cairá até o ponto de ser eliminado. Pelo que sabemos hoje em dia, isso também não ocorrerá. A tecnologia solar está chegando no limite teórico de eficiência, o custo do quilowatt/ hora continuará sendo mais caro do que o da energia nuclear e muito mais caro do que a hidrelétrica. O mesmo vale para os ventos e as ondas: são economicamente inferiores.
Quais são as soluções? Uma delas é armazenar a energia elétrica perdida nos horários de baixo consumo, técnica que os engenheiros de Itaipu estão tentando em um trabalho discreto, mas valoroso. De que forma? Existem três tipos de acumuladores: baterias, volantes de inércia e eletrólise do hidrogênio da água. As baterias, são caras. Os volantes de inércia (rodas girando em alta velocidade que acumulam energia mecânica) geram muita manutenção, sendo também dispendiosos. A mais promissora das formas de acumulação de energia, é a produção de hidrogênio, o que também não é barato e, não esqueçamos, é altamente explosivo.
A cerâmica termelétrica (que converte calor em eletricidade) e o barateamento dos painéis solares são também formas promissoras, pois mesmo com baixa eficiência, um dia pode-se ganhar em termos de custo. Materiais esponjosos que acumulam hidrogênio de forma segura também estão vindo por aí, mas essas tecnologias ainda residem no futuro.
E quanto ao álcool de cana? Será o futuro do Brasil? Não, não será. Apesar da enorme campanha do governo para afirmar o contrário, não creio. Desde o momento que se descobriu como extrair álcool de celulose e também de algas marinhas cultiváveis, a vantagem competitiva das grandes áreas agrícolas sob um sol tropical que temos se tornou menos significativa. É só questão de tempo para outros países produzirem álcool barato que virá competir com o nosso. E no momento que isso acontecer em nível mundial, os cartéis de petróleo despencarão ainda mais os seus preços, tornando os investimentos nessa área inviáveis.
Assim sendo, em termos práticos para o nosso momento presente, como parar de queimar combustíveis fósseis? Investindo nas formas convencionais de eletricidade. Quanto mais hidrelétricas e usinas nucleares tivermos, mais barato será o litro de combustível e o nosso ar será mais limpo.
Enquanto isso, não sonhe com uma motoneta elétrica. É caro.

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