domingo, 25 de novembro de 2012

HOMEM DE PRINCÍPIOS

Enquanto que percebemos que a maioria das parece agir de acordo com a direção dos ventos e os interesses momentâneos, a todo o momento ouvimos as pessoas dizendo que têm princípios.
Não sei exatamente o que os outros querem dizer com isso, mas para mim princípio é um molde binário que serve para orientar as nossas escolhas na vida na forma de sim ou não. Se somos pessoas de princípios, somos previsíveis, pois dada a situação, tentamos responder sempre da mesma maneira. Somos retos, e não curvados ao vento do instante.
Seguem abaixo os princípios seguidos por mim:

PRINCÍPIO DA BOA FÉ NAS RELAÇÕES
Existem pessoas que gostam de ser chicoteadas. Alguns homens gostam de homens barbudos e algumas mulheres gostam de mulheres com aparência masculina. Alguns gostam de ser asfixiados. Alguns gostam de pés, outros de grupos, outros de Internet, outros da própria mãe. Provavelmente não exista uma pessoa de imaginação tão pobre que sinta o seu prazer máximo fazendo papai-e-mamãe no escuro sempre com a mesma pessoa, como preconizam a Igreja e os bons modos. Portanto, no meu ponto de vista, não existe um “Princípio da Moralidade Sexual” que determine, por exemplo que famílias muçulmanas são pecadoras ou sujas. Pelo contrário, o sujo é aquele homem que trai a mulher escondido, como acontece na nossa sociedade. A traição não é traição pela moralidade sexual, como acredita a maioria, mas pela quebra do princípio da boa fé, o que é, de fato, abjeto.
Infelizmente, a maior parte das pessoas acha o contrário, pensa que poderia fazer qualquer coisa, desde que ninguém descobrisse...

IMPERATIVO CATEGÓRICO KANTIANO
Tentar fazer dos seus atos regras universais. Fazer ao próximo apenas aquilo que aceitaríamos que fizessem conosco (Kant não falou exatamente isso, mas essa é a ideia).
O corolário, é que devemos desejar ao próximo aquilo que queremos para nós. Por exemplo, um deputado que propõe a melhoria do transporte público, enquanto ele próprio se julga um ungido por Deus e anda de automóvel e helicóptero, é simplesmente um patife. Neste caso, as propostas deveriam ser no sentido de dar automóveis para o maior número possível de pessoas e ruas que permitissem tal fluxo de veículos.
Se seguirmos este pensamento, perceberemos que o que as pessoas querem na verdade são as vantagens pessoais, e não o melhor para todos.

PRINCÍPIO DA NÃO COMPACTUAÇÃO COM O ERRO ALHEIO
Também muito presente nos países latinos, as pessoas aceitam facilmente no seu convívio aquele que abandona a esposa, rouba da empresa em que trabalha, frauda na provas, mente ou corrompe, muitas vezes tais procedimentos são até valorizados.
Ao contrário, devemos-nos afastar de tais pessoas, já que a proximidade nos tornará vítimas fáceis da falta de escrúpulos.
Podemos extrair uma subcategoria que é o PRINCÍPIO DA INEXISTÊNCIA DE SEGUNDO ERRO. Ao contrário do que pregava Cristo, devemos enfrentar ou afastar aquele que nos esbofeteia, isolando-o, sancionando e impedindo de fazer novamente. Segundo este princípio, o segundo erro alheio é totalmente inadmissível.

PRINCÍPIO COMUNITÁRIO
No sentido do “Common Sense” de Jefferson. Devemos pensar em toda a comunidade, e não no pequeno grupo. No bem da humanidade, se possível.
No Brasil, esse princípio é praticamente inexistente. A tradição da Roma Antiga de privilegiar os “amicci”, a “famiglia”, é muito presente. Nos países anglossaxões as residências possuem gramados bem cuidados e árvores em frente, pois ali têm o senso comunitário mais desenvolvido que nós, no fazer coisas que beneficiem a todos os que passarem pelo local.
A penicilina, o avião, as viagens espaciais, o tear mecânico, a máquina à vapor, os computadores, a Internet e as redes sociais partiram de países anglossaxões porque neles existe mais presente esse conceito de fazer coisas que beneficiem a todos, não apenas a si mesmo e o pequeno grupo.

PRINCÍPIO ESTÉTICO
Derivado do Princípio Comunitário, as coisas que fazemos devem ser belas, pois contribuem para todos, e não apenas para o criador que teria interesse apenas na funcionalidade.  

PRINCÍPIO DO BEM FEITO
Ainda derivado do princípio comunitário, misturado com o Imperativo Categórico, tudo aquilo que for feito para outrem, deverá ser bem feito, de maneira que se todos agissem dessa maneira, pudéssemos tentar nos dirigir à perfeição.

PRINCÍPIO DA NÃO ONERAÇÃO ALHEIA
Ainda que pese que este princípio deva ser flexibilizado pelas mulheres, pois, por motivos longos de explicar aqui, não é imoral a esta ser sustentada pelo marido, em geral, não se deve esperar que outro pague as nossas próprias contas.
Este é outro princípio que a maioria não concorda: em geral, as pessoas acham que as mulheres devem trabalhar e que é lícito aumentar constantemente os impostos para que pequenos grupos se beneficiem.

PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Com exceção daquela que provoca dano real e imediato (panfletos que ensinem a fazer bombas caseiras, por exemplo), toda questão de liberdade de expressão deve ser resolvida em nível cível ou no âmbito de crimes contra a honra individual.
Rasgar a bandeira nacional, discutir com um policial falar abertamente sobre drogas ou fazer críticas contra o comportamento de grupos específicos, enfim, expressão pública ou contra agentes públicos ou de ideias não deveriam nem sequer ser cogitadas como crimes, mas tampouco a maior parte das pessoas pensa dessa maneira em nosso país.  

PRINCÍPIO DO PRAZER & PRINCÍPIO DA PERMANÊNCIA APÓS A MORTE
Nós somos os únicos animais que sabemos que vamos morrer e que o tempo passa. Assim, temos a obrigação pessoal de aproveitar ao máximo o instante presente no sentido de (1) obter prazer e evitar a dor e (2) fazer coisas que durem após a nossa morte, de maneira a tentar evitar que passemos.
O Princípio do Prazer refere-se ao prazer hormonal e dos neurotransmissores do cérebros: culto das ações físicas, através da adrenalina, do sexo (oxitocina, vasopresina e testosterona), das pequenas alegrias (endorfinas), etc.
O Princípio da Permanência Após a Morte, indica que devemos nos perguntar se o que fazemos será um ato que reverberá no futuro, ou apenas momentâneo e sem sentido.  Se momentâneo, aplica-se ou não o Princípio do Prazer?
Se algo que fazemos não é para a nossa permanência ou para o nosso prazer, é um ato vazio de sentido, apenas um entretenimento, um desperdício inócuo de tempo que devemos evitar.
Será que ficar deitado no sofá assistindo um programa de auditório no domingo à tarde é produtivo? Será que dá prazer? Se a resposta para ambas as questões for negativa, por que raios alguém haveria de perder tempo na vida?

Por tudo isso, vivermos sem princípios significa viver ao léu, agindo inconscientemente conforme a sociedade prega, conforme as nossas emoções do momento ou os ditames da grande mídia.
Possuir princípios significa possuir escrúpulos e, em última instância, construir um caráter que não pode ser dobrado pelas circunstâncias, pelos afetos ou pelas modas.
Enfim, ter princípios significa afirmar a si mesmo que se fazem sempre as melhores escolhas, aquelas que acreditamos.
Significa, portanto, afirmar-se como não escravo.