O que merece o dentista que matou covardemente o leão a flechadas?
Fonte da Imagem: Reprodução/Facebook/Zimparks
O que merece o
dentista que matou covardemente o leão a flechadas? Que tenha seus olhos
furados e depois amarrado a quatro cavalos e seus membros arrancados? Que o seu
tronco, ainda vivo, seja queimado em uma fogueira de achas de cedro e as cinzas
jogadas em latrinas pelos quatro cantos da África para que venha então a sua
clínica a ser dizimada pela multidão ensandecida, o terreno em que ela se encontra
salgado para que nele nada mais nasça e os seus descendentes amaldiçoados até a
quinta geração?
A narrativa tem
todos os elementos que motivam um discurso de ódio facilmente assimilado pelos
incautos: o maldoso imperialista norteamericano branco, provavelmente
heterossexual, adepto do sangue e da violência, chega sem qualquer provocação para
corromper uma sociedade intrinsecamente boa, desprovendo-a de sua riqueza
natural mais preciosa, de maneira que um futuro de brilho e graça que já se
avizinhava, torne-se impossível para o país impoluto sem que esta mácula seja
extirpada.
Imagine-se se o
ator fosse outro. Um pequeno e pobre pastor africano negro mata a flechadas,
por não ter dinheiro para comprar uma espingarda, o leão que devorava as ovelhas
que garantiam o seu sustento. Se o leitor possuir ao mesmo tempo ambas das
raras qualidades humanas da honestidade e da inteligência, há de convir que a
mídia internacional ficaria inerte e nada seria compartilhado ao redor do mundo
nas Linhas de Tempo do Facebook.
A repercussão deste crime,
portanto, diz respeito, principalmente, ao autor, não ao ato em si.
“O fascismo pode começar pela caça aos
tarados.”, dizia o cineasta Bernardo Bertolucci. Não se está discutindo aqui a
covardia e a violência do caso em tela, mas a milenar batalha entre civilização
e barbárie.
Foi exagero o
recurso narrativo dos suplícios medievais na introdução deste artigo? Pois até
ontem, 200 mil americanos já tinham assinado uma petição pedindo pela pena...
de degredo! Que ele seja entregue para o Zimbábue, pediam os neoselvagens de Minnesota. Ainda que tal ação seja prevista no ordenamento jurídico norteamericano, caso exista reciprocidade entre os dois países, será que aquele país africano conseguiria manter a integridade física do criminoso nas atuais condições em que se encontra a comoção produzida pela mídia mundial?
É nesses momentos de comoção que os oportunistas aproveitam para levarem vantagem pessoal através da relativização dos direitos do indivíduo. Será que se devem entregar as nossas liberdades e garantias contra os desmandos do Estado, apenas com a finalidade de punir um idiota?
É nesses momentos de comoção que os oportunistas aproveitam para levarem vantagem pessoal através da relativização dos direitos do indivíduo. Será que se devem entregar as nossas liberdades e garantias contra os desmandos do Estado, apenas com a finalidade de punir um idiota?